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O Fim do Silêncio da Omissão

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Quando eu era criança, sempre que ia a uma unidade hospitalar e via nas paredes a foto daquela moça (enfermeira) com o dedo em riste, na boca, pedindo silêncio, imaginava que o pedido era para as pessoas falassem baixo para não incomodar os pacientes internados.
Na verdade, era mais ou menos isso...

Alguns anos mais tarde quando estudava na Cruz Vermelha Brasileira, tive que fazer o meu primeiro estágio como auxiliar de enfermagem dentro de um hospital. Descobri então, que o tal gesto além de significar um pedido de silêncio em função do barulho, simbolicamente, também poderia significar um grande pacto do “silêncio e da omissão” por parte de autoridades e profissionais das mais diferentes equipes, para fatos e coisas que acontecem diariamente, e que sob o manto do sigilo profissional não são denunciadas.
Foi terrível conviver com essa realidade durante muitos anos... 
Atualmente sinto que em pelo menos em uma área estamos evoluindo: A partir de agora, os casos de pacientes vítimas de violência que chegarem aos estabelecimentos de saúde – públicos ou privados - terão que ser necessariamente notificados ao Ministério da Saúde (MS), sob pena de criminalização por omissão. Antes, os hospitais só precisavam notificar as autoridades policiais, configurando-se assim os casos como meramente de polícia e não também, de saúde pública.
A nova medida entrou em vigor desde a quarta-feira (26), quando foi publicada a Portaria Nº 104/MS, no Diário Oficial da União (DOU) e inclui a violência doméstica e sexual. 
Na mesma portaria saiu à atualização da Lista de Notificações Compulsórias (LNC), que acaba de incluir os casos de violência. Com esta inclusão a relação de casos a serem relatados passa a contar com 45 itens. Embora não trate especificamente da violência contra as mulheres, o texto automaticamente remete a casos de estupro e agressão física, dos quais elas são as maiores vítimas.
Não exerço mais a profissão. Porém não perdi o hábito de olhar aquela foto sempre que preciso ir a uma unidade de “saúde” encontro alguma.
Confesso que estão bem rareadas...
E hoje, quando as olho, torço para que aquele gesto deixe de ser meramente simbólico e que tenha o poder de transformar a prática dos atuais profissionais de saúde. 
Que exerçam as suas profissões com respeito e dignidade pela pessoa humana, e que não mais se escondam sob o manto da indiferença, cobertos pelo guarda-chuva do sigilo profissional. 

4 comentários:

Gostei muito do seu post. Republiquei-o em "Comer no Sertão". Um abraço

Oi Célia,
Fiquei muito feliz com a sua iniciativa.
Fui lá no Comer e deixei os meus sinceros agradecimentos.
Grande beijo.

Bem, enquanto isso as autoridades transvestem a imagem da justiça com as vendas nos olhos ... e não enxergam nada, a vergonha que se encontra o nosso sistema de saúde ...

Grande Jota,
Tá bom... Mas, isso não justifica a omissão de muitos profissionais em relação a esses fatos.
Forte abraço.
Obrigada pelo comentário.

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