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02 julho 2014

Meu querido inimigo

Em 1950 a camisa do Brasil era branca.

E nunca mais foi branca, desde que a Copa de 50 demonstrou que essa era a cor da desgraça.

Duzentas mil estátuas de pedra no Maracanã: a final tinha acabado, o Uruguai era o campeão do mundo, e o público não se mexia.

No campo, alguns jogadores ainda perambulavam.

Os dois melhores, Obdúlio e Zizinho, se cruzaram.

Eram muito diferentes. Obdúlio, o vencedor, era de ferro. Zizinho, o vencido, era feito de música. Mas também eram parecidos: os dois tinham jogado a copa inteira machucados, um com o tornozelo inflamado, o outro com o joelho inchado, e de nenhum deles ninguém ouviu uma única queixa.

No fim do jogo, não sabiam se trocavam uma porrada ou um abraço.

Anos depois, perguntei a Obdúlio:

- E você tem visto o Zizinho?

-Tenho. De vez em quando. Fechamos os olhos e nos vemos.

*****
Eduardo Galeano. 

Um comentário:

  1. Olá Beth,
    Obdulio Varela encarnava a raça uruguaia. O capitão é o símbolo maior da postura aguerrida que tanto marca a Celeste. E sua atuação na final da Copa de 1950 é uma das mais emblemáticas já ocorridas a lenda que Obdulio Varela se comunicava por telepatia com Zizinho, de quem se tornou amigo depois do fatídico dia.

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