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09 junho 2015

As rondas da memória

Na tarde do dia 30 de abril de 1977, se reuniram pela primeira vez catorze mães de filhos desaparecidos.

Desde então buscaram juntas, justas bateram nas portas que não se abriam.

- Todas por todas – diziam.

E diziam: 

- Todos são nossos filhos.

Milhares e milhares de filhos tinham sido devorados pela ditadura militar argentina e mais de quinhentas crianças haviam sido distribuídas como prendas de guerra, e nenhuma palavra era dita pelos jornais, pelas rádios, pelos canais de televisão.

Alguns meses depois da primeira reunião, três daquelas mães, Azucena Villaflor, Esther Ballaestrino e Maria Eugenia Ponce também desapareceram, como seus filhos, e como eles foram torturadas e assassinadas.

Mas, a caminhada das quintas-feiras, ninguém mais conseguiu parar.

Os lenços brancos davam voltas e mais voltas pela Plaza de Mayo e pelo mapa do mundo.

- Continuam dando voltas. 

***** 
Eduardo Galeano, Os Filhos dos Dias.

*****

Nota: Em setembro de 2014, em Buenos Aires, tive o enorme prazer de acompanhar as voltas e conhecer algumas dessas mulheres, que mesmo com a idade avançada, até hoje continuam a caminhada em busca de respostas.

Algumas já não conseguem andar sem ajuda.

Mas, mesmo assim, comparecem.

2 comentários:

  1. Crueldade! A perda de um filho transforma a vida de uma mãe. É crueldade não respeitar a sua dor.
    Crueldade possui muitas definições. Essa é uma delas.

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  2. É pior do que sepultar um corpo. Não saber se está vivo ou morto e se estiver vivo que, tipo de tortura pode estar sofrendo. É a dor mais terrível.
    Mães de verdade NUNCA deixam seus filhos sem "Resposta" nunca param de clamar.
    Abraços
    Ciça

    ResponderExcluir

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