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01 novembro 2017

Posso sempre

Mudar o ângulo de cada palavra, alterar a rota da disposição carnal para o bem maior, limpar ingerências autoritárias e transportá-las ao tom das árvores, criar campos verdes de solidão acompanhada. 

Posso transformar-me em ser mais feroz que toda moral.

Andar pelas chuvas torrenciais e burocráticas das salas de decisão política. Posso, e de repente, frutos e suspiros passeiam em meus seios – nos seios de uma mulher escorrega o mundo. Posso recuperar alguns mortos, algumas montanhas de passado e margaridas de pintores. Também dar adeus à realidade e pisar nos sonhos de um gato mosaico, muito mais que sete vidas. Posso deter o olhar aos prazeres como para a felicidade, nunca sem esquecer aos pobres mortos de todos os dias.

Esmiuçar o coração de todas as coisas e observar o cair das mãos sobre mim. Voltar ao estado da variação solar-lunar, fazer girar os pés em cima da cadeira e daqui de cima cuidar das flores e ventanias, alcançar estrelas com golpes de mãos elásticas, depois abrir a porta de casa e espelhar ao mundo isso que caço todas as manhãs. Posso fazer voar todas essas recolhidas flores e estrelas e ser mais rápida que a violência. Conhecer as almas que se esmorecem e se entregam para falar a vida. 

Posso engolir mariposas e soprar todas essas intempéries.  

*****
por Maíra Vasconcelos
GGN - O Jornal de Todos os Brasis

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