“Acabo de ler que a repercussão interna dentro do próprio SBT sobre a novela “Amor e Revolução” é o pior possível e que o chamado índice de audiência não consegue superar a faixa dos 4%, um fiasco em matéria de novelas no Brasil. Pensa-se mesmo em antecipar a gravação de uma nova novela para o horário.
Confesso que a notícia não me surpreende em absolutamente nada. Ou alguém, em sã consciência, afirmaria que o que se viu nesses dois meses no canal do Sr. Silvio Santos tinha alguma a coisa a ver com o tal “esclarecer as novas gerações sobre o que foi a ditadura militar no Brasil”?
Esse desejo nunca passou de uma intenção promocional, pois o que se viu desde os primeiros capítulos foi a desinformação e o desrespeito por muitos dos que tombaram na luta contra a ditadura civil/militar brasileira e que na época, inclusive, teve o apoio do Sr. Sílvio Santos.
Ao dar a minha opinião sobre a novela não pretendi me transformar em “dono da verdade”. Apenas – e isso já no primeiro capítulo – percebi que os autores não tinham a menor idéia do que estavam falando e fazendo. Situações, diálogos, pesquisa histórica mal digerida, cenários, alguns figurinos, tudo concorria para um grande pastiche sobre um dos períodos mais graves da nossa história.
Escrevi e fiz críticas como um dos que participaram ativamente desse período, quer como militante de uma das organizações revolucionárias ou mesmo homem de teatro. Sobre o assunto tenho quatro livros escritos, um deles como organizador de depoimentos de ex-presos políticos, feito em cooperação com os jornalistas Alípio Freire e José Adolfo de Granville Ponce, cujo título é “Tiradentes: Um Presídio da Ditadura”.
Claro que isso não me absolve para escrever o que quer que seja sobre a novela. E penso, sinceramente, que não o fiz. Como exemplo, posso citar o tal núcleo de teatro que a trama apresenta onde, e peço desculpas aos atores que o integram e que não têm nada a ver com isso, o nível de discussão e de diálogos entre os personagens atinge os limites da mediocridade e da ignorância sobre a tal “revolução” de que querem participar. E, o que é pior, sobre o próprio fazer teatral.
Ou ainda, as relações entre padres católicos e os “guerrilheiros”. Ingênuo, primário, falso, quer do ponto de vista histórico e também do ponto de vista dramatúrgico.
E poderia me estender sobre várias outras questões. Não é mais o caso e não quero maçar os leitores mais do que já o fiz. Apenas, e não posso novamente deixar de fazê-lo, tenho a intenção de separar o joio do trigo e dizer que respeito todos aqueles companheiros que, na melhor de suas boas intenções, deram seus depoimentos (muitos deles emocionantes) nos finais de capítulos.
Fizeram o que acharam que tinha que ser feito. Foi, aliás, a única coisa que se salvou do fiasco e que, ainda assim, teve que rivalizar com a hipócrita demonstração de “democratismo” ao dividir o espaço com alguns defensores da ditadura, da repressão e das torturas.
A quem os autores queriam enganar?"