Marambaia - Vista parcial |
Mas, eis que enfim a luz chegou.
Cem anos de escuridão, dependência, isolamento e ameças de expulsão por parte da Marinha do Brasil.
Não, não estou me referindo ao livro Cem Anos de Solidão do Gabriel Garcia Márquez, mas a uma comunidade quilombola da Ilha da Marambaia, na Baía de Sepetiba, em pleno Rio de Janeiro.
E mesmo com cerca de 100 anos de atraso, a energia elétrica chegou apenas para parte dos moradores da comunidade. O sistema só foi instalado nas casas mais antigas, ficando de fora as famílias constituídas pelos jovens, que não são reconhecidas como novos núcleos familiares pela Marinha, administradora da ilha.
Localização:
A Ilha da Marambaia está situada no litoral da Costa Verde, ao Sul do Estado do Rio de Janeiro, no município de Mangaratiba, na entrada da Baía de Sepetiba, defrontando-se com a Ilha Grande.
Acessível somente pelo mar, a comunidade de descendentes de escravos tem cerca de 270 famílias, das quais 95 foram contempladas pelo Programa Luz para Todos, do Ministério de Minas e Energia.
A comunidade vivia sem geladeira, ferro elétrico e computador. A energia era suficiente para assistir à televisão e ligar um rádio. Mas só até as 22h para quem não tinha aparelhos funcionando a bateria ou com minigeradores. Para carregar o celular, era preciso caminhar cerca de 1 quilômetro até o quartel. Até a chegada da eletrificação, a comunidade era abastecida por um gerador a óleo da Marinha.
Apesar da certificação da Fundação Palmares e do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Quilombo de Marambaia trava uma disputa pela regularização de 1,6 mil hectares dos 8,1 mil hectares da ilha com a Marinha. Os militares querem instalar uma base de submarinos no local e recorreram à Justiça para expulsar os quilombolas, além de impedir reforma nas casas.
Para intermediar a relação enquanto não sai a decisão judicial, a Secretaria de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) investe em programas como a eletrificação, diz a secretária de Comunidades Tradicionais, Ivonete Carvalho:
"De um lado, temos os quilombolas e, de outro, a Marinha. Respeitamos todos os argumentos, sem deixar a comunidade de lado."
A regularização fundiária de comunidades quilombolas está prevista na Constituição Federal. Porém, há divergência entre órgãos do próprio governo, e a questão terá que ser pacificada pela Câmara de Conciliação da Advocacia-Geral da União.
A rede eletrica em Marambaia custou R$ 10,5 milhões e foi possível por causa da parceria dos governos federal, estadual e a concessionária de energia. O sistema levou cerca de três anos para ser implantando. O alto custo deve-se ao fato de que foi preciso instalar 9 quilômetros de cabos submarinos.
Seja como for, sobre a notícia se pode extrairquatro constatações e um alerta:
-Quando os governantes decidem fazer, fazem.
-Atenção: Os militares continuam acreditando que o Brasil é patrimônio apenas deles.
-E como diz a Dilma: É possível sim, construirmos um Brasil Sem Miséria!