A grande moda, naquilo a que se chama de “redes sociais”, é divulgar informações amplamente conhecidas e jurar que não saíram em lugar nenhum, nem sairão. Por exemplo, uma vacina cubana contra o câncer, com a frase “uma lição na máfia da indústria farmacêutica” e a advertência: “Isso nunca será notícia na TV”. Não será, mesmo: já foi. E o link da fonte original da informação remete a que?
Bingo! Ao noticiário de uma grande rede brasileira de TV e a seu grande portal de notícias. E quem é que divulga que isso “nunca vai sair na televisão”? Uma jornalista. Esquisito? Pois é. Mas é preciso dizer de alguma maneira que a medicina cubana é a mais avançada do universo e que isso só não é mundialmente reconhecido porque os meios de comunicação brasileiros boicotam a importante notícia.
Outra coisa interessante é o mensalão: até Abraham Lincoln já foi apontado como distribuidor mensal de propinas, com o nobre fim de abolir a escravidão nos Estados Unidos. Tudo que envolva corrupção em qualquer lugar precisa ser amplamente divulgado, para que o mensalão não seja considerado tão grave assim. O último caso é o do mensalão espanhol, aparentemente, aliás, bem parecido com o brasileiro. Pipocaram as mensagens acusando a imprensa de não divulgar o mensalão espanhol, enquanto divulga o brasileiro.
E de onde saíram as notícias sobre o mensalão espanhol, que o pessoal propaga como se fossem informações sigilosas? Da imprensa brasileira, que por sua vez dá não apenas as notícias como também os comentários dos jornais espanhóis. Um jornalista famoso andou entrando nessa onda e, quando lhe perguntaram qual a fonte de suas informações secretíssimas, concordou: dos meios de comunicação daqui mesmo. Mas reclamou que o noticiário não era tão amplo quanto o do mensalão brasileiro. Claro (e ele sabe disso): o roubo do dinheiro público brasileiro é, para os leitores brasileiros, mais importante que o roubo do dinheiro público espanhol. Na Espanha, pode ter certeza, o destaque dado pelos meios de comunicação ao mensalón é maior que o obtido pelo mensalão.
E isso não acontece de um lado só. Há o famoso caso de O Chefe, o “livro proibido”sobre o presidente Lula - livro que teria sido censurado por contar uma série de fatos sobre Sua Excelência que o PT odiaria ver divulgados. Acontece que o livro não foi proibido, nem censurado: duas editoras o recusaram e o autor preferiu, em vez de continuar a procurar quem o editasse, desistir de qualquer remuneração e colocar o livro gratuitamente na internet. Quem quiser lê-lo não precisa pagar um tostão. Mas, se quiser fazê-lo, o livro acabou sendo publicado há uns dois anos, em papel, tudo direitinho. Quem preferir pagar por ele o terá em sua estante.
E, apesar disso, continua-se a discutir o “livro proibido”, como se proibido fosse.
Mas que é que se pode fazer quando jornalistas que perderam lugar na imprensa acham que sua missão ideológica sagrada é agora tentar destruí-la? Ou quando ativistas de outros partidos resolvem atirar no PT sem se dar ao trabalho de buscar informações confiáveis?
Observatório da Imprensa, Carlos Brickmann, 05/02/2013