Além de não cassar os seus, agora o Senado importa parlamentar ficha suja.
Não preciso ser nenhum gênio da política para perceber que a
fuga do senador boliviano, ficha suja e condenado por mais de vinte crimes
naquele país, cujo episódio derrubou o ministro Antônio Patriota, não foi obra
individual de um destemido e humanitário diplomata brasileiro, mas uma ação
organizada pela direita com apoio de setores conservadores do Congresso
Nacional e do Itamaraty.
A avaliação é do deputado Cláudio Puty (PT-PA), que participou de uma
missão oficial à Bolívia, em março, onde conheceu os três principais
personagens envolvidos na trama: o então embaixador do Brasil na Bolívia,
Marcel Biato, que patrocinou a aceitação brasileira ao pedido de asilo político
do senador, o diplomata brasileiro Eduardo Sabóia, que afirma categoricamente
ter organizado sozinho a fuga do político, e o próprio senador oposicionista Roger
Pinto, que viveu 545 dias na embaixada brasileira na Bolívia.
Para Puty, é inadmissível que o Brasil, que não aceitou o pedido de
asilo político do ex-agente da CIA, Edward Snowden, corra o risco de colocar em
xeque as relações com um país amigo para ajudar um criminoso comum como Roger
Pinto.
Ainda segundo o
deputado, ele foi à Bolívia acompanhado de outros quatro colegas que, como ele,
atuavam na CPI do Trabalho Escravo. Em visita à embaixada brasileira em La Paz,
ficou surpreso com a presença do Pinto, que se comportava como um "pinto no lixo". Que me desculpem os pintinhos...
Grande proprietário de terras na fronteira com o Acre, Roger Pinto
tornou-se o principal porta-voz do agronegócio no país. Governou o departamento
de Pando, quando acumulou processos por desvios de verba, favorecimento a jogos
ilegais e venda de terra pública para estrangeiros. Depois, elegeu-se senador
pela Convergência Nacional e passou a líder um bloco de partidos conservadores
no parlamento.
Patriota não foi
patriota
Desde que ingressou na carreira política, Pinto teve um aumento de 290%
em seu patrimônio, avaliado, hoje, em US$ 1 milhão. Condenado por dano
econômico ao país mais pobre da América do Sul, Roger Pinto pediu asilo
político ao Brasil, em maio de 2011. Mais de dois anos depois (junho/2013),
teve a solicitação acatada pelo Itamaraty e se dirigiu à embaixada brasileira
em La Paz, onde permaneceu por 545 dias, até a fuga para o Brasil.
De acordo o Governo da Bolívia, além da condenação, o senador responde
a quatro processos por corrupção, além de outros dez por crimes comuns:
calúnia, difamação e desacato à autoridade. O governo boliviano garantiu que o
episódio não irá afetar as relações da Bolívia com o Brasil, mas o Ministério
Público do país já estuda pedir a extradição de Roger Pinto.
Roger Pinto deixou
La Paz em carro oficial da embaixada brasileira, na companhia de Saboia.
Atravessou a Bolívia e despistou a imigração até cruzar a fronteira. Em Corumbá
(MS), foi recebido pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do
Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que o acompanhou até Brasília, de avião.
Fuga bem típica de
quadrilhas mafiosas.
No caso, um mafioso
com emblema oficial, e outro já condenado.