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Histórias da Abolição e do seu quartel general no centro do Rio de Janeiro

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A maioria dos cariocas que por ali passam todos os dias não sabem. 

Mas, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, no centro do Rio de Janeiro, guarda parte da história da abolição no Brasil e de seus protagonistas. 

Foi la, que há mais de 100 anos, se reuniram José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e André Rebouças, para articular ações pelo fim da escravidão no país.

Na paróquia, funciona até os dias atuais a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Na época imperial, os associados articulavam ações de caridade e o fim da escravidão, bem como a produção de jornais. Na garagem do prédio, funcionavam a gráfica de periódicos como o Abolicionista, de José do Patrocínio. 

A irmandade surgiu em 1640 para ajudar negros escravizados idosos ou doentes, abandonados à própria sorte no antigo Beco do Rosário, atual Rua Reitor Azevedo. Outra função, era financiar o enterro de negros escravizados, que, pelas regras da época, não podiam ser enterrados nos cemitérios da população católica e branca. O grupo também facilitava as fugas.

Os que chegavam ao local se livravam das peças de tortura, das algemas, recebiam comida, roupas e um trocado para conseguir fugir, embora muitos chegassem tão doentes que não conseguiam.

Ditadura Militar

Na época, a partir da década de 1960, na igreja também funcionou o jornal Melanina, publicação crítica ao regime e voltada para a população negra.

Atualmente, parte do acervo do Museu do Negro é composto de objetos da época doados por proprietários de antigas fazendas, como grilhões e quadros, além de peças da própria igreja, como estandartes em referência ao povo negro, aos santos católicos e a mitos, como a escrava Anastácia. Esta, até hoje, desperta curiosidade pela máscara de flandres sobre o seu rosto.

Anastácia

Era uma negra que veio da África, muito bonita, de olhos azuis, que não quis se entregar ao dono. Em represália, além de chicoteá-la, ele lhe colocou uma máscara para que ela não pudesse falar. Com o tempo, adoeceu e acabou morrendo. Não há até hoje documento que provove a existência dela. Apenas relatos  oral vindo das senzalas, que chegaram até os dias atuais.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito fica nas imediações do Largo de São Francisco, onde funcionou a primeira sede do Senado Brasileiro e onde foi discutida a abolição da escravidão, em 1800. Atualmente, o prédio abriga o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, que incluiu também o curso de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Luiz Cláudio Rodrigues, historiador e responsável pelo acervo do Museu do Negro.
EBC

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