Esta história eu adoro contar...
Ela começou a trabalhar com 12 anos. Aos 14, foi admitida em uma fábrica de massas de nome Paty, localizada (não sei se ainda existe) no bairro de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. E estudava no Seminário Betel, que ficava no bairro do Rocha (não se ainda fica).
À época existiam oficialmente dois salários mínimos no Brasil. Um para os adultos, outro para os menores de idade, hoje chamados de “di menor”. Se o salário dos maiores já era pouco, imagine o do menor...
Ela, que morava no Complexo da Maré, vivia um drama: como comprar roupa para ir todos os dias à escola e ao trabalho, se o dinheiro mal dava para comprar o pão, pagar o aluguel e a passagem?
Se faltava dinheiro... Tinha que sobrar imaginação...
Um dia ao acordar, resolveu que poria um fim no sofrimento. Não de imediato. Mas, em médio prazo...
No sábado seguinte, quando saiu do trabalho foi até Madureira - bairro que abriga as Escolas de Samba Portela e o Império Serrano. Comprou quatro pedaços de tecidos: dois para as duas saias, dois para as duas blusas, que seriam dali por diante o seu uniforme diário. As saias eram azul marinho e as blusas azul bebê. O tecido, um daqueles que não necessitam passar.
Sentiu-se orgulhosa. Enfim... um problema resolvido...
Quando no trabalho alguém lhe perguntava por que ela vestia a mesma roupa todos os dias, respondia:
- É o uniforme da escola.
E quando a pergunta vinha dos colegas da escola, respondia:
- É o uniforme do trabalho.
E ficava feliz com a sua capacidade inventiva...
Simples assim.
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Ah! E quem é ela?
Reposta: Eu.