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“O Mack não deveria aceitar nem negros e nem nordestinos”

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Estudantes denunciam pichação racista em faculdade de direito de SP.

Caso aconteceu na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde manifestações de cunho racista vêm se tornando cada vez mais recorrentes; diretoria da instituição repudiou o fato e informou que já abriu procedimento interno para apurar o episódio.

Uma pichação de cunho racista foi encontrada no final da tarde desta terça-feira (6), no banheiro da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, uma das mais tradicionais do país. Quem denunciou o caso foram os próprios estudantes que, através das redes sociais, compartilharam a foto da parede com a inscrição “Lugar de negro não é no Mackenzie. É no presídio”.

“É difícil pra mim, como estudante negra, desse mesmo prédio, escrever sobre essa imagem, por que ela é a representação do pensamento racista que eu sei que passa na cabeça de muitos que permeiam pelo Mack (…) Volto a dizer: podem chorar e escrever nas paredes quantas vezes quiser elite, branca, racista, MAS vai ter preto na universidade SIM”, se manifestou em sua página do Facebook a estudante Tamires Gomes Sampaio, primeira diretora negra do Centro Acadêmico do curso de Direito da universidade e segunda vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes.

Por meio de nota, a diretoria da faculdade também se posicionou contra o ocorrido, dizendo que “repudia todo ou qualquer ato, ação ou manifestação de cunho racista”, garantindo ainda que “já foi feita a denúncia aos órgãos e instâncias responsáveis pela apuração” e que também foi instaurado um procedimento interno.

Essa não é a primeira vez que mensagens racistas aparecem na universidade. A última vez aconteceu em agosto deste ano quando, também em um banheiro, foi encontrada a pichação: “O Mack não deveria aceitar nem negros e nem nordestinos”.

O Afromack, coletivo composto por negras e negros que estudam na universidade se posicionou contra o ocorrido, alertando para o fato de que não se trata de um fenômeno isolado: "dentro da nossa Universidade encontramos inúmeros casos de discursos pró divisão racial, violência verbal e até coação de pessoas por causa da cor de sua pele, fatos observados com uma certa frequência".

NOTA DE REPÚDIO

Nós, os integrantes do Coletivo Negro da Universidade Presbiteriana Mackenzie, manifestamos nossa indignação ao ato de cunho racista ocorrido no dia 6 de outubro de 2015.

Em sua própria discrição histórica, a Universidade Mackenzie faz alusão da premissa de ter sido uma das pioneiras na recepção de alunas e alunos de origem negra dentre seus discentes, contudo, o que observa-se nos dias atuais é que, apesar dessa premissa, o espaço universitário dessa ainda abarca um forte sentimento excludente étnico-social.

Mais precisamente ontem, dia 6 de outubro desse presente ano, um aluno que utilizava uns dos banheiros do prédio 3, que abriga os últimos níveis de graduação do curso de Direito, se deparou com os seguintes dizeres em uma parede “Lugar de negro não é no Mackenzie, é no presídio”, sendo esse o segundo ato racista, visto que o primeiro desse formato ocorreu em agosto, em um banheiro de um complexo de restaurantes intensamente frequentado por mackenzistas.

Em uma sociedade onde a população negra encabeça estatísticas alarmantes, como a de que 77% dos 30.000 dos jovens assassinados por ano Brasil, são negros (fonte: anistia internacional), a mulher negra é a mais atingida pelo desemprego (12%), e a renda dos negros é 40% inferior que a das pessoas de fenótipo brancos (fonte: revista exame) e em São Paulo onde ocorreu o fato, a maioria (38%) da população de moradores de rua é negra (fonte: Censo/SP), entende-se que as palavras descritas em banheiros nada mais é que um reflexo do pensamento elitista e opressor da sociedade.

Dentro da nossa Universidade encontramos inúmeros casos de discursos pró divisão racial, violência verbal e até coação de pessoas por causa da cor de sua pele, fatos observados com uma certa frequência. Esse fatores, por consequência, acabam limitando os espaços, os quais deveriam ser ocupados por pessoas de origem negra dentro do campus, sejam esses espaços discentes, docentes ou mesmo empregatícios. Essas pessoas possuem legitimidade para estar inseridas no ambiente acadêmico mackenzista.

Tendo como foco essa questão, podemos pontuar a parca presença de pessoas de origem negra nessa instituição, mesmo que as mesmas estejam dignamente trabalhando em serviços terceirizados, os quais infelizmente são, em sua maioria, serviços de limpeza ou construção civil. Não estamos aqui desprivilegiando essa classe, pelo contrário, a Ela prestamos todo o nosso respeito e agradecimento. Entretanto, não podemos deixar velado o fato do Corpo Docente da Universidade praticamente não possuir professoras ou professores de origem Afrodescendente, em quaisquer dos cursos oferecidos, o que sentencia a representabilidade negra.

Com a Lei 12.288 de 2012, o Estado passou a protelar à população negra a garantia da efetivação de igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos, o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica, o mecanismo mais utilizado para esse fim foi a criação das Ações Afirmativas. De acordo com o Ministério da Educação, no ano de 2013 a porcentagem de cotistas negros nas universidades chegou a 17,25%, sendo que em 2014 obteve um aumentou que chegou a 21,51%, mesmo com o crescente dado quantitativo, observamos que esse não se configura em uma mudança na mentalidade cultural da sociedade.

O dado descrito acima torna-se notório para evidenciar uma busca pela reparação da exclusão e dos abusos direcionados à um grupo étnico específico. Porém, a entrada de pessoas negras em espaços universitários não traduziu-se em mudanças nas estruturas sociais, culturais e principalmente nas relações de poder. Em detrimento dessa última, podemos pontuar que as ações afirmativas são apreendidas por uma parte da sociedade como algo a ser temido ou mesmo criticado de forma pejorativa. Visto que a inclusão de pessoas historicamente excluídas nos campos do conhecimento abre margem para a conscientização dos indivíduos como grupo, não que esses tenham por si escolhido um “lado”, pelo contrário, a sociedade escolheu previamente antes de seu nascimento.

Assim compreendemos que o ato racista ocorrido dentro do campus de Higienópolis da Universidade Presbiteriana Mackenzie deve ser ferozmente combatido por todas as esferas que compõem a estrutura acadêmica. E nós, como Coletivo Afromack, formado por alunas e alunos afrodescendente de cursos distintos dessa instituição, não ficaremos passivos e omissos frente a qualquer demonstração pública ou velada de opressão ligada ao nosso fenótipo ancestral.

Dessa maneira exigimos que a Reitoria e o Instituto Presbiteriano Mackenzie se posicionem contra esses fatos e tomem atitudes concretas para que o racismo que existe dentro do campus seja combatido. Seja com o posicionamento, contratando mais professoras negras e professores negros, com debates acerca do racismo, com cotas raciais no vestibular e principalmente com a responsabilização de pessoas que propagam o pensamento racista.

Atenciosamente,

COLETIVO AFROMACK.

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Da Revista Fórum

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