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A Garota Dinamarquesa: arte, amor e identidade de gênero

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Filme é baseado na história real de Lili Elbe, primeira mulher trans a passar pelos procedimentos de transição de gênero, em 1930, sempre acompanhada pela devoção de sua mulher, a pintora Gerda Weneger

O longa-metragem A Garota Dinamarquesa, dirigido por Tom Hooper, conta a história de Lili Elbe, uma mulher que nasceu em um corpo masculino e é considerada pioneira na realização de cirurgia de transição de gênero. Filme que estreou ontem, dia 11, nos cinemas brasileiros retrata a vida de Lili desde quando ela ainda era conhecida como Einar Mogens Weneger, um famoso artista dinamarquês casado com a pintora Gerda Weneger.

Baseado no livro homônimo de David Ebershoff (Editora Rocco, 368 págs.), o filme começa em 1926, em Copenhage, onde Einar (Eddie Redmayne) vive harmoniosamente com sua esposa Gerda (Alicia Vikander) em uma relação intensa e apaixonada. Ambos são artistas plásticos e assíduos frequentadores das festas e eventos sociais ligados à arte.

Um dia, a modelo de Gerda, a soprano Anna Fonsmark, se atrasa para uma sessão e a pintora pede um favor ao marido: que ele vista as meias de seda e os sapatos femininos para que ela possa começar a pintar e acaba colocando um vestido de festa sobre as roupas masculinas dele. O toque macio da seda e das rendas é o ponto de partida da crise de identidade de Einar no filme.

O espectador vai entender que o desconforto com o gênero sempre existiu na vida do protagonista, mas ele soube escondê-lo (até dele mesmo) para se proteger de uma sociedade preconceituosa e que ainda tratava as relações homoafetivas como crime. As roupas femininas sobre seu corpo são apenas o gatilho para o início de uma dolorida e profunda busca pela própria identidade.

No início, Gerda acha engraçado o fato de o marido sentir prazer em vestir-se de mulher. A brincadeira toma ar mais sério a partir da primeira festa em que ele vai travestido. Ele começa a vestir-se cada vez mais como Lili e acaba por assumir que sua personagem representava de fato sua verdadeira identidade: “Eu penso como Lili, sonho seus sonhos. Ela sempre esteve lá”, diz a Gerda.

Assim como o livro, o filme não é completamente fiel à realidade, por isso é considerado como obra de ficção. Mas a essência da história de Lili está nas telas: o sofrimento por não se encaixar em um corpo de homem e às regras sociais, a coragem de lutar para ser quem ela realmente era e o amor que continuou a nutrir por sua mulher, que esteve ao seu lado em todos os momentos.

Além de uma história emocionante, o longa-metragem, indicado a três categorias do Globo de Outo e ao Oscar, tem fotografia e atuações magníficas. A única questão controversa que veio à tona antes mesmo de seu lançamento foi o fato de a produção ter escolhido um artista cisgênero em vez de transgênero. “O acesso dos atores trans a papéis de trans e cisgênero é absolutamente fundamental. Mas a indústria neste momento tem um problema: existe um enorme leque de talentos de atores trans, mas o acesso deles é limitado. Eu defenderia toda e qualquer mudança na qual a indústria abraçasse e celebrasse os atores e os cineastas trans”, explicou-se Tom Hooper na época do lançamento mundial de A Garota Dinamarquesa.

Polêmica à parte, o que o autor David Ebershoff escreveu no posfácio de seu livro resume bem os questionamentos que a trajetória de Lili nos traz: “E a história de Lili Elbe é, claramente, uma história de identidade. Lili é hoje reconhecida como um ícone do movimento trans. Sua vida, tanto a que ela viveu, quanto a que ela descreveu ao se assumir em entrevistas e em Man into Woman, a biografia parcialmente ficcional que ela ajudou a escrever antes de sua morte, ampliou a compreensão do público sobre identidade de gênero na época. Desde então, ela inspirou muitos de nós, tanto trans quanto cis, a sermos nós mesmos. Lili sabia que uma vida falsa simplesmente não é vida. Quem somos nós? Quem queremos nos tornar? Como nos percebemos? Como queremos ser percebidos? Estas questões de identidade frequentemente estão no núcleo central de nossos conflitos internos. Quem consegue resolvê-las fica mais perto de estar livre. Quase um século atrás, Lili Elbe superou tais questões sobre si mesma. Ela posou para um retrato no ateliê de uma artista e disse para o mundo: – Esta sou eu".

1 Comentário:

Ontem, fui ao cinema assistir ao filme.
Não me arrependi.
Um filme belíssimo, sobre uma história real e comovente.
Uma verdadeira lição de amor incondicional entre dois seres humanos.
Isso mesmo: seres humanos.
Os intolerantes e fanáticos dogmáticos deveriam ir assistir para entenderem que “o amor não cabe explicação”.
Ah, de quebra, ainda revi as belas paisagens de Copenhague e pude recordar a minha passagem por lá....

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