Filmado dentro de uma van-estúdio, documentário da diretora Paula Sacchetta apresenta 26 depoimentos de mulheres vítimas de algum tipo de violência sexual. As mulheres escolheram entre dar o depoimento mostrando o rosto ou com máscara.
São Paulo – Entrou em cartaz ontem (29), no Cine Belas Artes, na região central de São Paulo, o documentário Precisamos falar do assédio, da diretora Paula Sacchetta, que o define como “bruto, duro, cru”. São 26 depoimentos de mulheres contando casos de violência sexual sofrida, em grande parte, durante a infância ou adolescência.
A força dos depoimentos tem ainda mais vitalidade em função da estética adotada pela diretora. Com um fundo escuro, os depoimentos são colhidos com apenas uma câmera parada e a mulher, em close, contando sua história. O filme tem a particularidade de ter sido um projeto-rodante, com as falas sendo tomados dentro de uma van-estúdio, uma espécie de confessionário, que percorreu cinco endereços da cidade de São Paulo e quatro do Rio de Janeiro durante a semana da mulher, em março deste ano.
Ao todo, foram 140 mulheres, entre 14 e 85 anos de idade, vítimas de qualquer tipo de assédio, que decidiram expor sua história. Os depoimentos são puros, sem qualquer tipo de interlocução ou entrevista, e podiam ser feitos mostrando o rosto ou usando máscaras. “No primeiro dia na rua, as mulheres foram tímidas, tentando entender o que estava acontecendo. Isso mudou a partir do segundo dia, quando, após o projeto ter aparecido na mídia, começou a haver uma mobilização das mulheres para encontrar a van e dar seu depoimento”, diz Paula, também diretora do documentário Verdade 12.528, sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade.
“Falo das coisas mais tristes e feias do mundo, para tentar mudá-las”, afirma Paula. Ela explica que a ideia do filme surgiu após a grande repercussão nas redes sociais das campanhas #meuprimeiroassédio, #meuamigosecreto e #agoraéquesãoelas. Para a diretora, a partir do momento em que as mulheres se sentem parte de um problema maior, que envolve também milhares de outras mulheres, há mais coragem para falar sobre a violência sofrida.
“A gente naturaliza a violência e não olha para ela como deveria”, disse, ponderando que talvez muitas mulheres só lembrem do fato ocorrido após verem ou lerem outras comentando fatos semelhantes. “Aprendi o sentido mais profundo da palavra acolhimento”, disse, ao falar sobre o processo de produção do documentário. “Ouvir as histórias mais horríveis que eu podia ouvir, foi também muito bonito como um lugar de encontro.”
O filme tem sido comparado por críticos com documentários realizados pelo cineasta Eduardo Coutinho, morto em fevereiro de 2014. “Pra mim é uma honra escutar esse tipo de coisa, ele é um mestre do documentário”, afirma, dizendo-se satisfeita por fazer um filme sobre um tema tão difícil e que está sendo bem avaliado esteticamente.
Precisamos falar do assédio fica em cartaz até 5 de outubro, com sessão às 16h40.
O Cine Belas Artes fica na Rua da Consolação, 2.423.
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