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Bem-vindos ao Brasil da Togacracia

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O mundo já conviveu e ainda convive, em diferentes lugares, com Monarquia, Plutocracia, Autocracia, Oligarquia, Aristocracia, Timocracia, Teocracia, Anocracia e a hoje muito questionada Democracia, que tem cada vez menos “demos” (povo) e cada vez mais “kratos” (poder) sob o comando do capital.

Mas agora surge uma nova forma de poder que, por reunir um pouco de todas essas “cias”, sem falar na pressão daquela outra, norte-americana, tornou-se mais poderosa: é a Togacracia, que botou as longas manguinhas de fora principalmente depois do golpe. É fácil reconhecer uma Togacracia. É quando juízes, magistrados e todas as instituições onde se encastelam, comandam, mandam e desmandam, punem e absolvem, por vias tortas, o direito que deveria ser igual para todos.

Na Togacracia é possível permitir que se tire do poder, por exemplo, quem foi eleito(a) pelo voto popular, sob alegações difusas e confusas sobre reles questões contábeis. Segundo os doutos senhores e senhoras do mais alto tribunal togacrático, pau que bate em Chico, Dilma, Lula e PT, não bate em Aécio, Temer, FHC, PMDB e PSDB.

É possível reconhecer um membro da Togacracia por sua cara de paisagem cada vez que a Constituição é atacada e vilipendiada pelos interesses da Plutocracia.

Na Togacracia todos ganham altos salários, tão logo ingressam em qualquer escalão do Judiciário, do Ministério Público, em Procuradorias, Tribunais e outros poderes “que tais”. Os demais cidadãos e cidadãs, de segunda ordem, são obrigados a se conformar, porque sabem o poder de uma Vara, mesmo que seja de primeira instância.

Na Togacracia há casos de juízes dedicadíssimos que avocam para si quase todos os casos de corrupção que, por coincidência, interessam muito às superpotências internacionais. Com suas implacáveis e tortuosas nuances de justiça quebram empresas, desempregam milhões de brasileiros, entregam segredos para empresas e governos estrangeiros, e são fotografados ao lado de corruptos, mas isso “não vem ao caso”. Há até quem pegue carona gratuita em avião da FAB na companhia de um presidente da República que terá brevemente – ou seria longinquamente? – que julgar.

Parcela considerável dos integrantes da Togacracia é amiga e parceira dos principais veículos de comunicação, para quem costuma vazar informações (mesmo quando a lei prevê sigilo) e negociar ações combinadas que expõem acusados à execração pública. Ou seja, na Togacracia, se não der pra prender, o acusado será condenado ao escárnio público mesmo que inocente. Os integrantes da Togacracia seguem à risca aquele ditado: “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”.

Mas que fique muito claro, corrupção a Togracracia não admite. Só demite. Na verdade, nem demite, aposenta. 

Por isso, sempre que um cidadão ou cidadã togacrático(a) for pego cometendo irregularidades funcionais ou quando há graves indícios de crime (venda de sentenças, conluio com criminosos etc), via de regra a regra é “condená-lo” a viver com seu alto salário pelo resto de sua vida, passando imediatamente à condição de aposentado(a). Como nunca são presos, há uma lenda nas sociedades togacráticas que seus integrantes são absolutamente íntegros e honestos. Pessoas que nasceram com um tipo de gene imune à corrupção. Por isso, cientistas têm dedicado esforços para identificar na cadeia do DNA porque seus integrantes são imunes à cadeia.

Na Togacracia acontecem situações que merecem divulgação para que o leitor ou a leitora compreenda melhor os mecanismos de seu funcionamento (vai que caia na prova da OAB, não é?). Por exemplo, numa Togacracia, um juiz que se apropria de dinheiro alheio e um carro de Eike Batista durante um processo é condenado à pena máxima: aposentadoria.

Como não há discriminação de gênero, a juíza que manteve presa uma menina de 15 anos junto com 30 homens numa cela, também recebeu punição rigorosa: afastamento por dois anos (recebendo salário, claro!). A menina foi sistematicamente violentada pelos detentos. A juíza passa bem, muito bem.

Na Togacracia, quando um desembargador é flagrado recebendo milhares de reais indevidos em seu salário, também costuma ser punido com aposentadoria. Há muitos e muitos casos sobre desvios de conduta que, de forma absoluta, recebem a mesma pena: geralmente, deixam de fazer parte da profissão que abraçaram (alguns com unhas e dentes – e parentes!) e passam os seus dias condenados a não ter o que fazer e, para atenuar destino tão rigoroso, recebem polpudos salários da poupança que suados trabalhadores destinam aos magistrados.

Os integrantes da Togacracia, quando dirigem alcoolizados e são pegos em blitze policiais, costumam aplicar “carteiraços” e uma senha que abre portas e janelas da prisão: “Você sabe com quem está falando?”. Em alguns casos, chegam a dar voz de prisão ao profissional que tenta aplicar a lei indistintamente, por desconsiderar que ela não se aplica a pessoas tão distintas.

A sociedade togacrática, para que possa funcionar adequadamente e bem servir aos seus, aos meus, aos vossos, oferece aos integrantes várias formas de ajuda de custo (custe o que custar à população), do nascimento à morte. Entre esses “penduricalhos” que se acrescentam aos altos salários podemos citar auxílio-natalidade, auxílio-moradia, auxílio-alimentação, abono pecuniário, auxílio pré-escolar, auxílio em caso de mudança de domicílio, diárias, passagens e outras mordomias, ôps, direitos.

Bem-vindo à Togacracia!

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