Apreciador de comícios (muitos eram divertidos), coisa que praticamente deixou de existir durante a ditadura e voltaram depois, vi perderem a força com as campanhas televisivas, a não ser nas eleições municipais em cidades sem emissoras de TV. Passou-se a ignorar programas partidários, ideologias, ética, tudo, para ganhar uns minutos televisivos.
Agora, continua a briga por “minutos de TV”, e continua-se também a colocar no mesmo saco todo tipo de gente. Continuam não valendo questões éticas, programáticas ou ideológicas.
Mas tudo isso deve ser superado pelas campanhas em “mídias sociais” cheias de notícias falsas.
Acantonados em seus mocós, os políticos não precisarão mais mostrar a cara nas praças, fazer comícios, ter que encarar o eleitorado. Escapam, por exemplo, do bêbado de comício.
Já escrevi sobre bêbado de comício: ele fala alto durante os discursos, faz piada sobre as falas dos candidatos, desmente informações que eles dão, duvida da honestidade deles e das promessas que eles fazem.
Ulysses Guimarães dizia que o mais chato dos chatos era o bêbado de comício. Já Miguel Arrais, media a popularidade dos candidatos pela presença de bêbados e malucos em comícios. “Para ganhar”, dizia ele, “tem que ter bêbado e maluco no comício”.
Muitos mineiros concordavam com ele. Diziam: “Se o seu comício não tiver bêbado nem maluco, demonstra que você não tem prestígio”. Existe até um ditado sobre isso: “Não tem campanha sem comício nem comício sem bêbado”.
Isso parece ter se esgotado. Nas próximas eleições teremos provavelmente campanhas sem comícios. E daí já não vale também a ideia de que não tem comício sem bêbado.
Bem… A direita parece ter muito mais competência que a esquerda para manipular informações via mídias sociais, generalizar opiniões imbecis em cima dessas informações, influenciar ideias, movimentos e eleições.
Pode ser que meu pessimismo seja superado, não sei. Nossas esperanças podem variar conforme os acontecimentos. Eu mesmo já escrevi frases mais ou menos “positivas” e outras muito “negativas” sobre eleições. Lá pelo fim do século passado, escrevi algo talvez possa repetir agora: “Chega de intermediários: Satanás para presidente.
E já brinquei com certos candidatos: “Urna funerária, para o político perdedor, é aquela em que ele não tem nenhum voto (ou quase nenhum). Cada urna dessas representa a morte para ele”.
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Mouzar Benedito é jornalista. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). É autor de vários publicados pela Boitempo, onde colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
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Mouzar Benedito é jornalista. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). É autor de vários publicados pela Boitempo, onde colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.