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Não faz muito tempo...

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E o país mais desigual do continente e mais desigual do mundo, começa a se redescobrir e saldar a sua dívida.

Dez anos da política de cotas

Há não muito tempo, um estranho conglomerado de jornalistas, artistas, antropólogos, esquerdistas arrependidos, entre outros, se lançou ao ataque contra a politica de cotas, contra as ações afirmativas. Afirmações como as de que estaríamos “introduzindo” (sic) o racismo no Brasil (brilhante afirmação de Ali Kamel, em livro propagandeado por milhares de posters), como se a escravidão não fosse um dos pilares da historia brasileira, a de que constitucionalmente “somos iguais diante da lei”, entre outras expressões da ignorância, da má fé, dos preconceitos, juntaram a antropólogos da USP, a gente como Caetano (que nem parece que nasceu na Bahia, antes de tornar-se um cronista conservador do Globo), a editorialistas indignados, em campanha frenética em torno do igualitarismo.

Não foi o suficiente para brecar esse avanço democrático no Brasil – o país mais desigual do continente  e mais desigual do mundo. O Judiciário aprovou por unanimidade a politica, o Congresso fez o mesmo, diante da impotência dos conservadores. A própria realidade desmentiu as falsas concepções dos conservadores, mostrando como os cotistas tem excelente desempenho, superior à media, a entrada deles não rebaixou o nível das universidades, ao democratizar o acesso às faculdades pelas cotas.

Estranhamente, durante a recente greve dos professores universitários, reitores de universidades federais, em manifesto, expressaram a opinião de que seriam eles e não os parlamentares – em nome de todo o pais – quem deveria decidir critérios de ingresso nas universidades. (E, em meio a centenas de assembleias da greve, não houve uma única manifestação de desacordo por parte dos grevistas.) São resquícios, junto a editoriais ranzinzas, da resistência à politica de cotas.

Como se o Brasil não tivesse uma divida histórica, gigantesca, com os milhões de pessoas, a primeira geração de trabalhadores da historia brasileira, que durante séculos construiu a riqueza do país, exportada para o consumo das elites europeias. Cometeu-se o maior crime de lesa humanidade, tirando do seu mundo a milhões de pessoas, trazendo-as como gado para as Américas, onde eram consideradas raça inferior, para produzir riquezas para os que cometiam esses horrendos crimes.

A política de cotas, iniciada no Brasil na UERJ, durante a reitoria de Nilcea Freire, cumpre dez anos, com enorme caudal de experiências a aprender, para liquidar de vez os preconceitos e repara, minimamente, as injustiças secularmente cometidas.

Me lembrarei sempre, na reunião com o primeiro grupo de alunos cotistas, quando uma senhora negra disse que ela vivia na favela do Esqueleto, que foi destruída para dar lugar aos prédios da Uerj. Ela passava sempre por ali e lhe doía que sua casa tivesse sido destruída para dar lugar a uma instituição que lhe negava o acesso. Até que finalmente ela pode voltar ao espaço que havia habitado, agora, orgulhosa, como estudante de Serviço Social graças à politica de cotas.
Quantas histórias como essas estão aí para serem contadas, mas que a mídia privada esconde, porque não tolera a democratização por que o Brasil passa.

Emir Sader 

3 comentários:

Nós brasileiros temos sim essa dívida, mas, sabendo que eu particularmente acho que o ingresso nas instituições superiores deveria ser por mérito.
Assim como a minha mulher fez a 20 anos atrás quando ingressou em uma universidade, graduou, pós graduou por duas vezes e hoje galgou uma colocação em uma instituição de nível superior com seus méritos.
Não tenho nada contra nem nenhum preconceito,pois a minha mulher é negra e foi da periferia da cidade, porém já ha muitos tempo que nós não temos politicas integrada na educação em nosso país, é necessário que o governo tomem na cara para que respeitem a educação.
Sem polêmicas, as cotas são para os fracos, os fortes se esforçam e conseguem.
Abraço

Olá Beth, boa tarde, tudo bem?
Nossa, que belo texto! Realmente muito bem escrito a ponto até de mudar a opinião relativo ao sistema de cotas!

Este é um assunto divergente, intrigante, polêmico, mas cujas discussões, parecem estar chegando ao fim e de uma forma positiva!
Foi bom passar por aqui, como sempre!!
Beijos amiga e ótima semana!

Oi Beth

Muito bom este texto!

O Brasil é uma país que cresce apesar de...

Se o crescimento econômico for associado ao crescimento cultural, profissional e pessoal da população, diminuindo as desigualdades sociais, aí sim, poderemos realmente afirmar que crescemos.

Beijos

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