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Soltando a (própria) voz
Publicado por Beth Muniz
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Livro revela como o programa Bolsa Família transformou a vida de beneficiárias oriundas de regiões secularmente identificadas com a submissão feminina.
Chamado por alguns de “Bolsa Esmola” ou “Bolsa Vagabundagem”, o programa Bolsa Família tem estimulado muitos beneficiários, de origem social extremamente desfavorecida, a buscar emprego e, inclusive, a se tornarem empreendedores.
Após algum tempo, muitas mulheres estão preferindo abrir mão do auxílio mensal de R$ 166 por uma renda fixa maior de R$ 1 mil, o que as permite ousar e colocar seus sonhos de consumo na lista de objetivos possíveis a serem alcançados ao longo da vida. Onde estão as “acomodadas”?
A autora não entra no mérito e não discute casos individuais sobre mulheres apontadas como sendo “interesseiras”, porque segundo ela: 1. não somos ninguém para julgar moralmente comportamentos e decisões individuais; 2. isso desvia o foco do que importa assinalar e ofusca o entendimento necessário sobre uma estrutura social que há séculos barra mulheres à independência financeira em relação aos homens da família e aos homens em geral.
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Essas são algumas das conclusões do estudo empreendido pela socióloga Walquiria Gertrudes Domingues Leão Rêgo (UNICAMP) e pelo filósofo italiano Alessandro Pinzani (UFSC): Vozes do Bolsa Família. Autonomia, dinheiro e cidadania.
Desde 2006, eles acompanham e entrevistam mulheres beneficiárias do Bolsa Família nas regiões tidas como as mais desassistidas do Brasil, cuja população apresenta níveis baixíssimos de escolaridade e onde quase não há emprego, a saber: o sertão nordestino (Alagoas), a zona litorânea de Alagoas, o Vale do Jequitinhonha (MG), a periferia da cidade do Recife, o interior do Piauí e do Maranhão e a periferia de São Luís (MA).
Trata-se de mulheres pobres em regiões rurais do país, que levam uma vida de privação ao acesso de recursos públicos básicos, como educação formal e saúde. Portanto, a ajuda do Bolsa Família, apesar de ser pouca, já representa uma grande diferença no cotidiano de carências dessas mulheres, que estão longe de quaisquer alternativas. A boa notícia é que o dinheiro vem sendo aplicado não só para diversificar a dieta alimentar, mas também para que elas ousem sentir-se mais livres, mais à vontade, mais dignas. Muitas delas estão se permitindo comprar um batom e descobrindo, pela primeira vez na vida, a vaidade que não aprenderam a cultivar.
Poucas até estão chegando a tomar decisões complicadas e incomuns para mulheres, nas regiões em que vivem, como conseguir o divórcio de casamentos infelizes, de se separar física e simbolicamente do marido opressor e da onipresente estrutura machista opressora. Nota-se um avanço lento e tímido, mas extraordinário.
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Opinião
Local: Brasil
Brasília - DF, República Federativa do Brasil
2 comentários:
Olá Beth! Impossivel descrever em palavras a realidade destas pessoas.Só mesmo quem já viu de perto tem condições de avaliar que se trata exatamente de um outro mundo.E o bolsa família foi o maior incentivo de vida que elas receberam.
Confesso que sempre tive desconfiança desse programa porque sou de opinião que se deve ensinar a pescar e não fornecer o peixe. Contudo após ler esta postagem dou a mão à palmatória. Que bom que está dando resultados insuspeitados.
beijos