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O que ter mais livros do que sapatos quer dizer sobre uma mulher
Publicado por Beth Muniz
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Num país em que uma mulher é estuprada a cada doze segundos, ainda costumo ouvir que machismo não existe e feminismo é coisa de mulher mal-comida.
Como, ao que me parece, os dados alarmantes são insuficientes para comprovar uma realidade tão espantosa quanto inegável, talvez as pequenas bizarrices do dia-a-dia sejam capazes de convencer com mais eficiência.
Dia desses, em um destes meus laboratórios involuntários pelas timelines alheias, vi um post em que o autor pensava ser engraçado e dizia: “Se uma mulher tiver mais livros que sapatos, case-se com ela.”
Comecei a pensar sobre a minha paixão por livros e sapatos – que possuo em quantidades equivalentes – e sobre o porque o meu apreço por scarpings, sapatilhas e rasteirinhas poderia me tornar menos digna de um casamento (como se um casamento fosse lá imprescindível na vida de uma mulher).
E pensei, sobretudo – com lamento – sobre como algumas mulheres ainda se deixam aprisionar por grades invisíveis de um machismo camuflado. Sobre como ainda cultivam estereótipos como o de que mulheres muito bonitas geralmente são burras, mulheres musculosas são menos femininas ou mulheres que amam sapatos não podem, também, amar livros – e, pior ainda, mulheres que não amam livros são menos dignas de um relacionamento.
Espantei-me ao constatar que as mesmas mulheres que ficam indignadas diante de um machismo que pensa poder ditar o tamanho de suas roupas são coniventes com o mesmo machismo que pensa poder ditar os seus gostos pessoais, e associá-los ao seu suposto mérito de um relacionamento sério.
E, cultivando esta minha irritante mania de ser radical, acredito que todo esteriótipo é inútil. E os esteriótipos acerca do comportamento feminino são mais do que inúteis: são violentos.
A verdadeira liberdade não está só em poder dar pra quantos quiser, ter sua intimidade respeitada e não ser submetida a sexo sem consentimento. Está em poder ditar os próprios gostos e a própria identidade sem ser rotulada. Em poder amar livros, sapatos, homens, mulheres, musculação, desenho animado, vídeo-game, bebidas fortes e tudo o que julgar digno de apreço, sem ser submetida aos julgamentos preconceituosos alheios.
Porque se os gostos masculinos nunca foram ditos incompatíveis, não podemos – e não vamos – aceitar que os nossos o sejam.
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Nathali Macedo, assim se define: Atriz por vocação, escritora por amor e feminista em tempo integral. Adora rir de si mesma e costuma se dar ao luxo de passar os domingos de pijama vendo desenho animado.
Publicado originalmente no DCM
Direitos Humanos - Mulheres
Opinião
Sociedade
Local: Brasil
Brasília - DF, República Federativa do Brasil
2 comentários:
A moça pensa direitinho rsrs.
Passando para deixar um abraço e desejar bom fim de semana.
É mesmo, né? Pq temos que saber tudo? Por que temos que ser bonitas e "burras" "feias" e inteligentes e não temos o direito nem de envelhecer. Já tive o desprazer de ouvir um Sr. de mais de 60 anos dizer que, mulher de 30 anos para ele,"Não servia...no máximo até 25". Eu penso que o propósito da vida humana é de caminharmos juntos..."Má" tu quer saber, NÃO TROCO MEU DEDINHO DO PÉ POR NENHUM BARBADO, só pelo meu filhinho que AINDA não tem barba kkkkk
Bjs
Lúcia