Páginas
As rondas da memória
Publicado por Beth Muniz
2
Na tarde do dia 30 de abril de 1977, se reuniram pela primeira vez catorze mães de filhos desaparecidos.
Desde então buscaram juntas, justas bateram nas portas que não se abriam.
- Todas por todas – diziam.
E diziam:
- Todos são nossos filhos.
Milhares e milhares de filhos tinham sido devorados pela ditadura militar argentina e mais de quinhentas crianças haviam sido distribuídas como prendas de guerra, e nenhuma palavra era dita pelos jornais, pelas rádios, pelos canais de televisão.
Alguns meses depois da primeira reunião, três daquelas mães, Azucena Villaflor, Esther Ballaestrino e Maria Eugenia Ponce também desapareceram, como seus filhos, e como eles foram torturadas e assassinadas.
Mas, a caminhada das quintas-feiras, ninguém mais conseguiu parar.
Os lenços brancos davam voltas e mais voltas pela Plaza de Mayo e pelo mapa do mundo.
- Continuam dando voltas.
*****
Eduardo Galeano, Os Filhos dos Dias.
*****
Nota: Em setembro de 2014, em Buenos Aires, tive o enorme prazer de acompanhar as voltas e conhecer algumas dessas mulheres, que mesmo com a idade avançada, até hoje continuam a caminhada em busca de respostas.
Algumas já não conseguem andar sem ajuda.
Mas, mesmo assim, comparecem.
2 comentários:
Crueldade! A perda de um filho transforma a vida de uma mãe. É crueldade não respeitar a sua dor.
Crueldade possui muitas definições. Essa é uma delas.
É pior do que sepultar um corpo. Não saber se está vivo ou morto e se estiver vivo que, tipo de tortura pode estar sofrendo. É a dor mais terrível.
Mães de verdade NUNCA deixam seus filhos sem "Resposta" nunca param de clamar.
Abraços
Ciça