Fazendo bonito sem qualquer apoio oficial.
Enquanto isso, Neymar faz propaganda de qualquer coisa, de cueca a rum creosotado, fatura — e sonega.
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Marta é, desde terça feira, dia 9, a maior artilheira da história das Copas do Mundo femininas. Marcou de pênalti o segundo gol do Brasil contra a Coreia do Sul no Mundial do Canadá.
O time venceu por 2 a 0 e voltará a campo contra a Espanha para mais uma partida que ninguém vai ver por aqui.
Uma pena, porque Marta e suas colegas mereciam ser vistas, reconhecidas, prestigiadas — não apenas pela qualidade do jogo, mas pelo exemplo de abnegação, fazendo bonito sem qualquer apoio oficial.
Ela, que o próprio Pelé chamou de “pelé de saias” (eventualmente ele não fala bobagem), está no extremo oposto de mimados milionários com suas cabeças enfeitadas com faixas que dizem “100% Jesus”.
O site da revista The Atlantic traz uma excelente reportagem comparando a trajetória dela e a de Neymar e seus caminhos cruzados. Nos últimos oito anos, Marta passou por sete equipes que fecharam as portas por falta de investimento. Na Copa do Canadá, ela tenta novamente, e talvez inutilmente, despertar a atenção do público brasileiro (e de patrocinadores).
Enquanto isso, Neymar faz propaganda de qualquer coisa, de cueca a rum creosotado, fatura — e sonega. De acordo com a Justiça espanhola, não consta a declaração de 13 milhões de euros na contratação pelo Barcelona. Precisava?
Curiosamente, Marta jogou no Santos em 2010. Quando Neymar começou a ser cortejado pelos europeus, o Santos fez o possível e o impossível para pagar seu salário. Isso incluiu eliminar o time feminino em 2011.
Ele já declarou sua admiração a Marta. Segundo a Atlantic, ela chegou a pedir ajuda ao colega. Não é nenhuma extravagância. Na Inglaterra, quando o grupo das mulheres teve um problema financeiro e quase sucumbiu, o capitão John Terry e outros atletas se mobilizaram para dar um suporte monetário.
Marta se manifestou sobre o escândalo na CBF. “É triste o que tem acontecido, mas também é bom porque é merecido, e dá uma esperança que as coisas melhorem”, disse. “O futebol masculino ainda tem clubes fortes, patrocinadores, mas o feminino depende bastante de instituições como a Fifa, que é quem pode investir. E aí, é triste você ver nessas horas que o investimento poderia ser maior, se não fossem essas coisas.”
Não que Neymar não mereça o sucesso. Merece, mas é isso? Mais um jatinho, mais um iate, mais um séquito de puxa sacos, mais sonegação? Se der errado Cristo salva?
Não à toa, ele não falou ou falará sobre a roubalheira da Fifa e da CBF, já que é parte do problema e não da solução. Neymar é craque, sem dúvida. Marta, porém, a estrela de um exército de Brancaleone no país dos Del Neros, faz parte da categoria das heroínas.
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DCM