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12 livros feministas que você precisa conhecer – Parte III

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Para uma melhor reflexão, vou mencionar em cada post, apenas três.

Para ler o post anterior clique aqui.

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Fundamentos para uma leitura crítica do mundo social

As reflexões produzidas pelo feminismo – numa economia expressiva, já que se trata na realidade de feminismos, no plural – colocam questões fundamentais para a análise da opressão às mulheres nas sociedades contemporâneas. Mas não é só da posição relativa das mulheres que trata a crítica feminista.

O conjunto cada vez mais volumoso dos estudos feministas expõe os limites das democracias quando estas convivem com a exploração e a marginalização de amplos contingentes da população.

Analisam, assim, mecanismos que operam para silenciar alguns grupos e suspender a validade das suas experiências – eles operam de maneira específica sobre as mulheres, mas não se reduzem a uma questão de gênero. Tratam das conexões entre o mundo da política, o mundo do trabalho e a vida doméstica cotidiana. Na produção mais recente, sobretudo, apresentam contribuições incontornáveis para o entendimento de como diferentes formas de opressão e de dominação operam de forma cruzada e sobreposta. Cada vez mais, falar da posição das mulheres é falar de como gênero, classe, raça e sexualidade, para mencionar as variáveis mais mobilizadas, situam conjuntamente os indivíduos e conformam suas alternativas.

Em sua diversidade, a produção feminista questiona a subordinação e confronta, permanentemente, discursos que se fundam na “natureza” para justificar a opressão.

A lista que apresentamos traz um conjunto (entre muitos outros possíveis) de leituras feministas que colaboram para entender o mundo contemporâneo e os desafios que enfrentamos para a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais livre. A ordem segue de maneira aproximada a data da publicação original das obras.

7. Christine Delphy – L’enemi principal (Paris: Syllepse, 2013).
O pensamento feminista sempre recriminou o marxismo pela desatenção às questões de gênero, entendidas como necessariamente secundárias em relação a classe – e produziu várias tentativas de sínteses, em que os dois eixos de desigualdade fossem levados em conta. Uma das mais instigantes é a da francesa Delphy. Segundo ela, o modo de produção capitalista convive com um modo de produção “patriarcal”, marcado pela transferência de trabalho das mulheres para os homens, na esfera doméstica. Ainda que deixe muitas pontas em aberto (foi criticada sobretudo por ser incapaz de apreender os mecanismos de subordinação feminina fora da família), a proposta de Delphy é precisa ao apontar a incapacidade que o modelo marxista tem de incorporar o trabalho doméstico e a exploração nele presente. (Um capítulo do livro foi publicado em português, na Revista Brasileira de Ciência Política, aqui).

8. Carol Gilligan – Uma voz diferente (Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1990).
Publicada em 1982, a obra inaugura as reflexões sobre uma ética baseada no cuidado. Gilligan tem como ponto de partida a teoria dos estágios morais do filósofo e psicólogo estadunidense Lawrence Kohlberg, que é subvertida quando as vozes das mulheres são tomadas como tal, e não tendo como referência um “universal” fundado na posição masculina. Embora esclareça que a “voz diferenciada” das mulheres não emerge da condição feminina, mas de experiências decorrentes de sua posição social, essa abordagem acabou sendo reapropriada no pensamento “maternalista”, que associa cuidado e feminilidade e vê na maternidade a base para uma ética diferenciada. As críticas dirigidas a Gilligan apontam problemas metodológicos nas entrevistas que embasam suas conclusões e, sobretudo, um deslizamento da análise da posição de mulheres de classe média para o que seria a experiência feminina em geral. A contribuição de Gilligan permanece, no entanto, no esforço para tomar como base as vozes situadas das próprias mulheres e, a partir delas, compreender suas razões e escolhas. É algo que se revela particularmente interessante nas entrevistas que tematizam a decisão de abortar, em que os julgamentos e a linguagem das próprias mulheres constituem a problemática moral. (A edição brasileira está esgotada há muito tempo, mas um capítulo do livro encontra-se na coletânea Teoria política feminista: textos centrais, organizada por Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli. Vinhedo: Horizonte, 2013.)

9. Catherine A. MacKinnon – Hacia una teoría feminista del Estado (Madrid: Cátedra, 1995).
Por seu tom fortemente polêmico, a obra da jurista estadunidense MacKinnon é, com frequência, mal interpretada e mesmo folclorizada. Mas ela apresenta contribuições de enorme importância, mesmo que controversas, para compreender os mecanismos de reprodução da dominação masculina. Vivemos em sociedades, diz ela, marcadas pela erotização da dominação. A sexualidade – conceito que ela expande para além da dimensão física, correspondendo à “dinâmica do sexo como hierarquia social” – é, assim, uma expressão da dominação masculina. Isso a leva a descartar a possibilidade de consentimento das mulheres nas relações heterossexuais: numa sociedade assim organizada, não há possibilidade de agência autônoma para elas. É necessário desfazer o trabalho de introjeção dos valores dominantes, para que uma consciência feminina genuína possa emergir. (Um resumo de parte do argumento do livro é feito por MacKinnon em seu texto “Desejo e poder”, incluído na coletânea Teoria política feminista: textos centrais, organizada por Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli. Vinhedo: Horizonte, 2013.)

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