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Diálogo no coração do sistema

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Jacques e a Revolução

“Jacques e a Revolução”, breve em cartaz no Rio, debate, em tempos de democracia golpeada pelas elites, a dialética da relação entre empresário e empregado

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Escrita num momento diverso, porém igualmente perturbador, ao final dos anos 1980, no início do processo de democratização do país, à época da queda do muro de Berlim, “Jacques e a Revolução” ou “Como o criado aprendeu as lições de Diderot”, de Ronaldo Lima Lins, dialoga intensamente com os tempos que correm, como se estivéssemos diante de uma espécie de expressão premonitória das sucessivas crises hegemônicas e representativas dos poderes. Para examinar um conjunto de ideias delineadas pelo iluminista francês, a peça reinaugura questões antigas na dinâmica dos últimos séculos de modernidade. Não há lugar geográfico específico. O mundo está em foco. Tudo se passa através do diálogo entre dois personagens: O patrão, um empresário e seu empregado, Jacques.


A conversa entre os dois personagens centrais – Jacques e o Empresário – é amigável e informal, porém, às vezes resvala para conflituosa – colocando-os em confrontos bem humorados. O “tema da viagem”, conforme aparece em Diderot, aqui se concentra num único eixo, no coração de um império econômico, metáfora do próprio sistema. Não se trata, no entanto, de uma situação onde tudo parece indiferenciado. Um comentário descuidado, no conjunto das situações, aponta para algo profundo, como se as ações humanas permanecessem além da nossa compreensão. Constrói-se então uma reflexão que, sem tirar o sabor do riso, atribui ao mesmo um caráter sério, como se nos movêssemos sobre armadilhas.

“Somos colocados diante de uma dialética envolvendo dominador e dominado, como se fosse um destino, no qual há trânsito e alternância de posições. Quem estava por baixo vê-se por cima e vice-versa”, reflete Ronaldo Lima Lins, autor da peça.

A direção acentua um jogo de espelhos, numa encenação que exercita o poder da síntese, ao trabalhar com quatro naipes de personagens: dois homens e duas mulheres. “Essa composição permite revelar mais claramente o jogo presente no próprio texto, favorecendo uma grande construção dramático-narrativa entre atores e público”, afirma o diretor Theotonio de Paiva.

No elenco, dirigido por Theotonio, estão Abílio Ramos, Ana Luiza Accioly, Katia Iunes e Luiz Washington. Caio Cezar e Christiano Sauer criaram a trilha sonora original da peça. Marianna Ladeira e Thaís Simões assinam a direção de arte e Carmen Luz a direção de movimento e preparação corporal. A iluminação é de Renato Machado. Designer gráfico Nicholas Martins, fotos de MarQo Rocha e Flávia Fafiães.

O espetáculo acontece no Centro Cultural Parque das Ruínas – um espaço cultural inusitado, em Santa Tereza, Rio de Janeiro. Pelo que restou de um casarão típico do bairro, circulam hoje quase 35 mil pessoas por dia. Em sua temporada, a peça promoverá também eventos paralelos, como debates e lançamentos de livros, O próprio texto, em livro, será lançado em 15 de outubro. Coincidentemente, Ronaldo Lima Lins apresenta outro livro de ensaios, “O saber e os ventos do não saber”. Que será lançado dia 5 de outubro na Livraria Blooks, pela Editora Mauad.

Jaques e a Revolução, ou “Como o criado aprendeu as lições de Diderot”, passou por Lonas e Arenas Culturais, no decorrer desse ano, onde recebeu público de diversos bairros cariocas. Uma nova frente de espectadores está se criando…

Onde: Centro Cultural Parque das Ruínas
R. Murtinho Nobre, 169 – Santa Tereza
De 7 a 30 de outubro, no Rio de Janeiro – sexta a domingo, às 19h
R$ 30,00 reais e R$ 15,00 (meia)
Duração: 80m

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