Hoje faz 26 anos que Alceni Guerra foi indiciado por prevaricação no chamado "Escândalo das Bicicletas". Um caso de pre-julgamento midiático que destruiu não só a imagem pública do ex-ministro da saúde, mas criou sérios problemas para seu filho que na época tinha apenas 12 anos.
A denúncia foi feita pelo Correio Brasiliense, que em letras garrafais publicou: "Saúde compra 22 mil bicicletas superfaturadas." As bicicletas, compradas numa licitação, seriam utilizadas como transporte de agentes comunitários no combate a epidemia de cólera que se alastrava pelo país.
Como uma bola de neve as denúncias foram crescendo em reportagens feitas pelos grandes veículos de comunicação, culminando com uma foto de primeira pagina em um jornalão do Rio mostrando o ministro andando de bicicleta com seu filho Guilherme. A foto vinha acompanhada das manchetes: "Devassa geral na Saúde começa hoje", "Ministro diz que não pede demissão".
No dia seguinte o jornal publica uma charge que entraria para a história da imprensa escrita, Alceni guiando uma bicicleta dupla e seu filho atrás com uma tarja preta nos olhos como se ele fosse um delinquente.
O ministro foi exonerado do cargo, e uma semana depois, no Dia dos Pais Alceni chegou à escola da filha, Ana Sofia, então com 4 anos, e teve um choque: a menina carregava um cartaz com as mais pesadas acusações publicadas contra Alceni na imprensa. Era o "presente" de Sofia, preparado pelas próprias professoras do colégio.
Em outubro de 92 o inquérito foi arquivado por falta de provas, Alceni foi inocentado do crime de prevaricação e de corrupção. Mas a condenação midiática não deu para ser revertida.
Outra vítima da perseguição política foi Ibsen Pinheiro, ex-presidente da Câmara dos Deputados que se notabilizou pela sua atuação no processo de impeachment do ex-presidente Collor e pela CPI do Orçamento que culminou com a cassação de vários parlamentares ligados a mafia do orçamento.
Ibsen foi acusado por uma grande revista de fazer parte da mesma mafia. O parlamentar gaúcho foi cassado e o caso foi considerado na época um dos erros mais graves da história recente da imprensa.
Segundo o repórter Luís Costa Pinto, tudo não passou de uma armação da oposição que foi bancada pela revista.
Tivemos também o caso da Escola Base em São Paulo.
Nos últimos 30 anos centenas de pessoas foram vítimas de denúncias falsas repercutidas de maneira escandalosa sem nenhuma prova material e sem direito a reparação.
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por Florestan Fernandes Júnior
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