Vamos aos fatos: ontem entrevistamos cerca de 5000 mil pessoas para 70 vagas de emprego.
E o porquê fizemos isso ao invés de pedir para enviar por email?
Simples: 80% dos e-mails que chegavam, não tinham nenhuma experiência ou pouquíssima instrução.
Com quase nenhum detalhe, currículos simples de pessoas que precisam de uma oportunidade.
Se levassemos em conta apenas os currículos enviados por email, contratariamos apenas quem tem experiência ou qualificações.
E esse nunca foi o nosso intuito.
Contratamos pessoas que enviaram email sim, mas nosso objetivo sempre foi quem não tem oportunidade de trabalhar exatamente por não ter qualificação e experiência.
Por esse motivo ficamos mais de 15 horas entrevistando e atendemos todos os que foram levar seu currículo.
Do rapazinho que fez em uma folha de caderno por não ter dinheiro para imprimir seu currículo, à senhora que se encontra há 5 anos sem trabalhar porque segundo ela, ninguém a contrata porque perdeu os dentes.
Todos foram entrevistados.
Poderíamos fazer uma mega entrevista com cada um? Sim.
Mas me diga, será que todos ali teriam condições emocionais de passar por um processo seletivo de dias, com provas, dinâmicas e afins?
Aonde apenas os ” melhores” passariam.
Não queremos os melhores, eu quero gente de verdade.
Gay, lésbicas, ex presidiários, idosos , gordinhos, altos, baixos todo mundo é igual e bem vindo aqui.
Deprimente é entrevistar uma menina simpática e linda, que começou a chorar porque não consegue seu primeiro emprego porque segundo ela: falaram que ela é “gorda demais para usar o uniforme da empresa”.
Esse é o mundo corporativo babaca que não quero e não serei.
O sorriso no rosto foi para cada pessoa do início ao fim, cara a cara com os responsáveis da empresa.
Seria mais fácil ter terceirizado para um RH fazer esse processo e só ter os candidatos com o perfil que definimos.
Mas nós não somos assim e se Deus permitir nunca seremos.
Não podemos mudar o mundo, mas 70 realidades vamos sim.
Quer ficar indignado?
Fique com os políticos que vocês escolheram, um aeroporto de ridículos 15 anos para se entregue, com um rombo de mais de 43 milhões.
Com mães dormindo em filas para matricular o filhos, com esperas de 6 meses para uma consulta no SUS.
Agora, nós não devemos nos orgulhar e ficar felizes de fazer algo, de ir contra a corrente, de oportunizar a igualdade de todos terem a mesma chance de disputar uma vaga? Não com base em anos de mercado ou seus títulos?
Continue aí indignado no seu sofá com ar condicionado, com seus diplomas na parede e sua caranga na garagem.
Quando decidir mudar algumas realidades mesmo que só em seu bairro a gente conversa.
Tem gente que se encontra tão perdido que precisa fazer o outro sair do caminho só pra não se sentir tão mal consigo mesmo.
Um recado: enquanto houver fôlego em mim farei questão disto, olhar na cara de cada pessoa, dar dignidade mesmo que seja para um não.
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por Wallace Aranha, diretor de Relacionamento do Rick’s Burger, Vila Velha, ES.
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