Em eleição crucial, CNBB escolhe trilhar os caminhos do Papa Francisco.
Os discípulos de Francisco combatem a promessa de guinada conservadora da instituição.
Motivo de tensão entre a ala social da Igreja Católica, a ensaiada guinada reacionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) naufragou. Ao menos pelos próximos quatro anos, o setor do episcopado que torce o nariz para as ideias do papa Francisco continuará a atuar nas franjas da estrutura eclesiástica.
Imagem: UOL |
É o que mostram os resultados da 57ª Assembleia-Geral da entidade, que elegeu o novo presidente, dois vice-presidentes, um secretário-geral e representantes de vários organismos e pastorais. A parelha principal não poderia ser mais simpática aos ideais do papa argentino, e deve abraçar seus planos para o futuro da Igreja Católica em um mundo no qual a pobreza, a desigualdade e a violência crescem sob a batuta de falsos profetas do populismo.
A presidência e a primeira vice-presidência ficaram com os moderados dom Walmor Azevedo, arcebispo regional de Belo Horizonte, e dom Jaime Spengler, de Porto Alegre. Um dos postulantes ao comando da CNBB, o antirreformista dom Odilo Scherer, de São Paulo, acabou preterido.
Os bispos também decidiram mandar um recado àqueles que atacaram a Igreja no debate sobre o meio ambiente. O segundo vice-presidente será dom Mário Antônio da Silva, bispo em Roraima.
O grupo pan-amazônico, que reúne cerca de 90 bispos latino-americanos, teme pelo futuro dos povos indígenas e pela biodiversidade enquanto Bolsonaro ocupar o Palácio do Planalto. Os riscos advêm, na avaliação do grupo, da postura permissiva em relação ao avanço do agronegócio, ao uso indiscriminado de pesticidas, ao aumento da violência rural e à autorização para exploração farmacêutica e megaempreendimentos de turismo na floresta.
A escolha de Silva favorece ainda os preparativos para o Sínodo da Amazônia, marcado para ocorrer em Roma, e alvo de críticas e da arapongagem do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional e responsável pela Agência Brasileira de Inteligência. Além das questões sociais e ambientais, o evento discutirá questões eclesiais importantes, entre elas a ordenação de padres casados para atuar em regiões de difícil acesso como a floresta.
A CNBB foi fundada por dom Hélder Câmara em 1952 e vicejou durante um período de intensa renovação na Cúria Romana que resultou no “catolicismo de face humana”, após os horrores do nazifascismo. Grande parte do clero defendia uma “igreja dos pobres”, atuante contra a desigualdade social e a favor dos direitos das minorias. A esta ala contrapunha-se, como se contrapõe até os dias atuais, os defensores de um trabalho religioso fincado nos ritos, sacramentos e dogmas que mantiveram por séculos a Santa Sé como o mais influente agente político do planeta.
A eleição da CNBB, que ocupou por dez dias o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, foi marcado por novidades. Uma mulher, a economista e professora universitária Tânia Bacelar, estrelou o painel de abertura do evento. De verniz desenvolvimentista, Bacelar expôs aos bispos as conquistas sociais entre 2003 e 2014 e os problemas da economia brasileira que se intensificaram após o impeachment de Dilma Rousseff.
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