Meus ouvidos custaram a
identificar o significado da palavra Asfralto pronunciada por uma senhorinha.
Senhorinha por sinal, muito elegante e bem articulada nas palavras, que falava
ao telefone com uma amiga no ponto de ônibus, enquanto esperava o buzão para o
Sol Nascente e/ou Pôr do Sol, Cidades do Distrito Federal.
Pôr do Sol e Sol Nascente são a
mais nova marca do abandono das pessoas no DF. Marca aliás, Internacional. Estão
à frente da famosa Rocinha, no Rio de Janeiro, que conta com 69.161 habitantes.
De acordo com as informações do governo local, as duas favelas juntas somam mais
de 120 mil habitantes. Isso tudo bem pertinho do Palácio do Jaburu onde se
negociam desde 2014, malas de dinheiro e compras de votos para a permanência no
Poder.
Voltemos a nossa personagem:
- Tu ainda num conseguiu ???? Tu é muito mole ... Minha fia, este é o
ano pra conseguir. Chama o povo. Todo mundo tem que colaborar. Junta um daqui,
outro dali, e nóis consegui... O que num pode é ficá parado e sem fazê nada... -
dava ênfase ao “ficá parado”. Se nóis num consegui agora, num consegue mais!
A hora de consegui o asfralto é agora. Eles tão cum medo de não eleger...
Não entendi nada: eleger quem? Não
seria (eles) se reelegerem?! Sim era disso que a senhorinha falava: A hora é
agora, em 2018, já que os políticos estão com medo de não se reelegerem.
- Vou tê que desligar. O ônibus ta vindo. Se não pegar esse nem sei que
hora o outro vai vim. Tô indo. Quando chegar nóis conversa...
A senhorinha subiu no ônibus,
certamente pensando em como conseguir o asfralto. Eu fiquei pensando: será mesmo que 2018 está
nos trazendo ventos de mudança na política tradicional e no comportamento dos
eleitores? Por mais que eu guarde dentro de mim um lote de esperança, a
senhorinha aponta para um outro rumo... O
da minha desesperança.
Enquanto ela sonha com a sua rua
asfaltada, eu sonho com um mundo pavimentado de boas práticas políticas por
parte dos que compram e dos que vendem.
Mas, que sou eu para condenar os miseráveis que são
abandonados e se deixam abandonar pelo atalho do asfralto.
O caminho da consciência crítica é mais árduo e mais longo...