Bem, pelo menos espero que você saiba que existiu Ditadura Militar.
Como se comportava a Esquerda Festiva e o que pretende hoje?
Quer saber?
Leia o Manifesto da Esquerda Festiva.
Ela está de volta!
“Durante a ditadura militar, aqueles que se atreveram a comungar das ideias esquerdistas sem estarem envolvidos diretamente com a luta armada foram logo apelidados, de maneira pejorativa, como “esquerda festiva”. Eram pessoas que, embora não tenham arriscado a vida contra o regime dos fardados, participavam da resistência e bradavam contra o governo em mesas de bar e festas, entre um gole e outro. Artistas, intelectuais, boêmios: seu “esquerdismo” de nada valia… para a direita. Como se, ora bolas, mesas de bar não fossem ótimos lugares para se discutir política.
Agora, quando se vê um ressurgimento de manifestações populares anticonservadoras nascidas nas redes sociais, o termo “esquerda festiva” volta a aparecer, à guisa de crítica, aqui e ali, para tentar ridicularizar os que vão às ruas protestar contra ou para reivindicar algo. Foi assim recentemente com os jovens que acamparam em Madri e se manifestaram em Barcelona, na Espanha, “acusados” de protestarem enquanto se divertiam. Mas que absurdo: em lugar de se imolarem em praça pública, tomam vinho!
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Amarelinho/Cinelândia/Rio de Janeiro |
Na verdade, a “esquerda festiva” é tudo que precisávamos no mundo pós queda do muro de Berlim. Acabaram-se os cenhos franzidos das ditaduras capitalistas ou comunistas, acabou-se a tortura e a polícia do pensamento, vivemos em democracias, podemos nos manifestar alegremente.
A luta armada acabou, viva a luta AMADA: lutamos em favor do que acreditamos, do que queremos, do que amamos. É possível empunhar cartazes juntos, tomando cerveja, ouvindo música, comendo churrasco ou paquerando alguém pelo caminho. No hay más que endurecer.
É hora de a “esquerda festiva” (na qual me incluo) se assumir como tal, sem demérito nenhum. Por isto quero propor este manifesto com algumas das ideias surgidas até agora pelos bares da vida e esquinas virtuais. Atenção: nem todo mundo que for às manifestações convocadas pela internet tem obrigação de aderir a manifesto algum. Aliás, a esquerda festiva não obriga ninguém a nada. Mesmo porque sua regra número um é:
-É proibido proibir, claro. E patrulhar também é bem chato.
-Nossas bandeiras: liberdade, igualdade, fraternidade, tolerância, solidariedade, gentileza, generosidade, paz, amor, alegria.
-Nossas causas: lutamos pelos direitos humanos e dos animais, pela preservação do meio ambiente, pela liberdade de credo (e de não ter credo), pela descriminalização das drogas e do aborto, pela igualdade entre os gêneros, pelo respeito aos ciclistas e por mais ciclovias nas cidades, pelas energias renováveis, pela proteção à infância e à velhice. Lutamos contra as guerras, a opressão, a violência, a corrupção, a exploração, o capitalismo predatório, os regimes autoritários, a desigualdade social, a exclusão, o analfabetismo, o transporte individual, a homofobia, a xenofobia, o racismo e toda forma de preconceito.
-A esquerda festiva será convocada a se reunir em passeatas, marchas e manifestações, mas também em bicicletadas, piqueniques, raves, shows, palhaçadas, churrascos, caminhadas, escaladas, cachoeiradas, contemplações da natureza, meditações e o que mais imaginar a criatividade de seus integrantes.
-Nas manifestações será permitido paquerar, beijar, abraçar e fazer cafuné para não perder a ternura.
-A esquerda festiva não admite paredões, fuzilamentos, exílio ou prisão de dissidentes. Quem pensa diferente é só alguém que pensa diferente.
-Pessoas de todos os partidos serão bem-vindas: a esquerda festiva independe de partidos ou classe social.
-Todos os eventos serão gratuitos e sua organização, voluntária.
-Discursos (curtos) serão aceitos, mas a esquerda festiva considera que rodas de samba e batuques em geral falam mais do que mil palavras.
-A esquerda festiva não cabe em manifestos nem aceita rótulos – inclusive o de “esquerda festiva”.
Bem, à época eu não pertencia a chamada Esquerda Festiva. Até porque não tinha idade para frenquentar bares...
Tomar porrada podia!
Mas, agora estou pensando seriamente aderir ao Manifesto.
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Cynara Menezes
Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a Carta Capital.