Não me considero uma pessoa religiosa. Mas não me furto ao dialogo sobre o tema, até, para ter a oportunidade de prender um pouquinho. Se for só um pouquinho, já terá sido muito. Espero que gostem.
“Dois estudos internacionais indicam que a religiosidade pode proteger da morte por problemas cardíacos e de doenças como hipertensão.
"Cada vez mais estudos apontam essa associação benéfica. Os resultados ainda não são definitivos, mas merecem ser discutidos", diz o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da divisão de pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo.
Existem algumas teorias para explicar por que as pessoas religiosas têm menos doença cardiovascular. A principal delas, de acordo com Avezum, é o controle do estresse. "O estresse aumenta os níveis de cortisol no sangue. Isso eleva a pressão arterial e pode provocar taquicardia -fatores de risco para problemas cardiovasculares. As pessoas espiritualizadas têm maior convivência social e enfrentam os problemas da vida de maneira mais fácil, gerenciam melhor o estresse", diz. O psicólogo José Roberto Leite, do departamento de Psicobiologia da Unifesp, concorda. "Pessoas que têm uma crença religiosa costumam alimentar expectativas positivas em relação ao futuro”.
Resultados controversos
O geriatra Giancarlo Lucchetti, do Departamento de Neurologia da Unifesp, diz que a dobradinha religiosidade e espiritualidade sempre esteve muito próxima da saúde, embora haja conclusões controversas. "Há estudos que mostram benefícios, outros não. Mas a religiosidade é benéfica não apenas para o coração, mas para a saúde como um todo”.
Lucchetti fez um levantamento com 110 pacientes idosos que estavam em reabilitação na Santa Casa de São Paulo. Aqueles que eram mais religiosos tiveram uma melhora rápida no tratamento e relataram ter mais qualidade de vida, segundo o médico. Ele alerta, porém, para o fato de que a religião pode atrapalhar o paciente, dependendo da abordagem: "Muitas pessoas acham que um problema de saúde acontece porque estão sendo punidas, porque Deus as abandonou. Isso provoca desfechos piores no tratamento e maior índice de depressão".
Religiosidade, sozinha, não faz milagre, como lembra o cardiologista Marcos Knobel, do hospital Albert Einstein: "Quem só se dedica à religião e esquece de outros fatores não estará mais protegida do que alguém que cuida da saúde, mas não é tão religioso".
Fonte: FERNANDA BASSETTE
Publicação: Folha de São Paulo, 29/04/2010.