Os comentários grosseiros e ofensivos em páginas informativas na Web têm uma influência muito maior do que se imagina na formação de opiniões, pois a baixaria online é causa e consequência do tipo de informação publicada em blogs, redes sociais e sites noticiosos. Este fenômeno aumenta a polêmica em torno da complexidade da circulação de informações na internet.
A constatação foi feita por um grupo de cinco pesquisadores da universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, que investigaram a influência de comentários pouco civilizados na forma como as pessoas desenvolvem opiniões sobre fatos, dados, eventos e processos sobre os quais têm pouco conhecimento.
O trabalho envolve um estudo das reações aos textos de uma amostra de 2.338 pessoas – escolhidas conforme o perfil da população norte-americana – que comentaram as informações fictícias publicadas em um blog sobre nanotecnologia. Os pesquisadores escolheram propositalmente um tema neutro para evitar o passionalismo inevitável, caso o assunto fosse política, esporte, religião ou terrorismo, por exemplo.
As conclusões mostraram que as pessoas com pouca familiaridade com novas tecnologias como a nanotecnologia tendem a valorizar mais o lado negativo do tema em questão quando os comentários postados nos textos do blog resvalaram para a baixaria e ofensas pessoais. Como mais da metade dos participantes da pesquisa tinha um conhecimento mínimo sobre materiais inframicroscópicos, as pessoas destacaram mais os riscos do que as vantagens das pesquisas nessa área supernova na atividade cientifica.
Se a polarização de posicionamentos e a radicalização de percepções aconteceram num debate em torno de um tema relativamente pacífico, não é necessário muito esforço para deduzir o que aconteceria se a pesquisa envolvesse comentários sobre eleições, futebol, sexo ou religião. O festival de baixarias, por exemplo, é quase uma característica inevitável das campanhas eleitorais online.
Mas a internet não pode ser culpada pela falta de civilidade evidenciada por milhares de internautas. Também não é um fenômeno apenas brasileiro e nem muito menos um processo irreversível. Os cinco professores norte-americanos (três mulheres e dois homens) afirmam que a baixaria se tornou mais visível na internet pela ampliação exponencial do número de pessoas que podem publicar comentários na rede mundial de computadores tendo, teoricamente, acesso a uma audiência de mais de um bilhão de internautas.
A tendência a baixaria, radicalização e sectarismo já existia, mas não assumia as proporções do fenômeno online por falta de mecanismos de circulação massiva e instantânea de opiniões. O fenômeno é mundial e assume características específicas segundo o país em questão. O estudo da universidade de Wisconsin-Madison mostrou que os norte-americanos também apelam para a baixaria online para defender pontos de vista.
O preocupante é que a universalização e a instantaneidade da internet permitem que as distorções informativas também sejam cada vez mais amplas e imediatas. Isso pode ter consequências trágicas se levarmos em conta que hoje estamos submetidos a uma avalancha informativa na qual nos defrontamos diariamente com problemas complexos sobre os quais temos escasso conhecimento. A possibilidade de sermos envolvidos inconscientemente em processos de radicalização e xenofobia aumenta muito.
Os autores do estudo também assinalam que, embora os comentaristas pouco civilizados sejam os responsáveis pela criação de um clima de radicalização de posições num debate online, a causa, o gatilho que dispara a polêmica, é a noticia ou o texto analítico original publicado num blog, rede social ou página web de referência. A pesquisa mostra que uma notícia descontextualizada, enviesada ou uma análise crítica posicionada contra alguma ideologia, projeto político, postura religiosa ou proposta partidária tende a acirrar ânimos.
Nessas condições, a justificativa de liberdade de expressão perde consistência diante das prováveis consequência da radicalização e passionalismo. Não se trata de culpar A ou B ou C. A questão não é achar um bode expiatório. O problema é desenvolver a consciência de que uma vez deflagrada a baixaria, ela se torna incontrolável, no curto prazo, e vai exigir tempo, paciência e muita conversa para ser revertida.
Fonte: Observatório da Imprensa
Nessas condições, a justificativa de liberdade de expressão perde consistência diante das prováveis consequência da radicalização e passionalismo. Não se trata de culpar A ou B ou C. A questão não é achar um bode expiatório. O problema é desenvolver a consciência de que uma vez deflagrada a baixaria, ela se torna incontrolável, no curto prazo, e vai exigir tempo, paciência e muita conversa para ser revertida.
Fonte: Observatório da Imprensa