-Em Brasília, caminhei, observei, li e ouvi.
Vi uma multidão caminhando em festa, empunhando bandeiras, e, alguns com pedaços de paus. Li cartazes com frases sem nexo e ligação umas com as outras. Ouvi gritos de xingamentos contra partidos políticos, governadores, prefeitos, magistrados, e a quem simplesmente passava em paz a caminho de casa.
Bingo! Não é por acaso este o tema recorrente do Fórum Social Mundial, que acontece uma vez por ano, e é dirigido por partidos e organizações da esquerda mundial?
Mas, então, porque à distância entre as palavras de ordem que os jovens gritam nas ruas e os resultados práticos das bandeiras de luta aprovadas nos Fóruns já ocorridos, que em tese são as mesmas?
-Resposta: Reside exatamente na palavra ‘Distância’.
Os dirigentes do FSM não foram capazes de dar passos concretos em direção a este possível e prometido novo mundo. As reivindicações ficaram registradas nos anais dos encontros.
Do outro lado do muro, os jovens que sonham com essa “utopia”, mesmo que não tenham estado fisicamente lá, se apropriaram da ideia e tomaram as ruas para colocá-las em prática. E nesse caminhar agregaram os mais diversos interesses - de grupos e pessoas - que em algum momento lhes atropelam, deixando a população em estado de choque com a onda de vandalismo e violência.
Após mais de três horas de escuta e observação, quando os sinais da baderna que se iniciaria era visível, resolvi ir embora. Na Rodoviária do Plano Piloto, mais susto: Um mar de gente gritando e intimidando quem esperava o transporte para voltar para casa.
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Após horas de reflexão cheguei a algumas conclusões, inconclusas:
-Quanto aos jovens
Construir um outro mundo? Sim é possível. Entretanto este “novo mundo” não pode e nem deve ser construído disseminando-se o medo, destruindo-se bens e patrimônios públicos, e, sobretudo, desrespeitando-se os mais velhos, conforme vi e ouvi ontem.
E para aqueles que defendem um Estado “libertário e anárquico”, é bom lembrar que mesmo na Grécia Antiga, berço da democracia, a sociedade era organizada em torno de algo ou alguém. Foi a união militar das cidades-Estado que possibilitou a vitória dos gregos. Logo depois, as próprias cidades da Grécia Antiga decidiram lutar entre si para saber quem imperaria na Península Balcânica.
Eis aí o grande desafio para o Movimento Passe Livre: Continuarão marchando sozinhos ou tentarão estabelecer alianças estratégicas com setores da sociedade que não se sentem representadas pelo movimento?
-Quanto aos dirigentes em geral
Fica um alto e sonoro recado: Não pensem que escaparão ilesos dessa turbulência. Sejam do Executivo, do Legislativo ou Judiciário (estados e municípios). O que vi e ouvi ontem foi um claro repúdio ao poder constituído, inclusive, aos partidos – vermelhinhos, amarelinhos, verdinhos e azulzinhos.
Entretanto, haverá uma clara graduação de (in) responsabilidades históricas, cujo resultado aparecerão nas ruas.
É hora de uma parada estratégica para refletir sobre o que está acontecendo. Se a Imprensa Golpista (PIG) está se esforçando, esforcem-se também.
Beth Muniz