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Sansão, o terrorista
Publicado por Beth Muniz
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Bristol (EUA) - Um dos filmes de que me lembro bem em minha adolescência foi “Sansão e Dalila”, com Victor Mature, numa das famosas super-produções assinadas por Cecil B. DeMille.
Sansão era um dos Juízes, isto é, um dos líderes divinamente inspirados dos judeus. Toda aquela área espremida entre o Egito e a Síria era também a Terra Prometida, segundo Moisés (vivido por Charlton Heston, em outra célebre epopeia DeMilliana sobre o Velho Testamento).
Entre os muitos povos que disputavam o mesmo território, de semitas a não semitas, estavam os filisteus, supostamente originários da ilha de Creta, não longe dali.
As diferentes religiões, todas antagônicas e mutuamente excludentes, só contribuíam para acirrar os ânimos. A terra que uma divindade prometia a um povo era a terra que outra divindade prometia a outro povo.
Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência.
Como sói acontecer, o nascimento de Sansão, como um eleito de Jeová, fora anunciado por um anjo. Ele seria um predestinado.
Para facilitar sua tarefa, Sansão fora dotado de força descomunal. Matar leão para ele era uma barbada. Ele o fazia com as mãos nuas.
Uma ocasião, para poder pagar uma aposta que perdera (graças à perfídia de sua esposa, uma filisteia com quem ele teimara em casar, contra a vontade de seus pais), Sansão matou 30 filisteus, despojando-os de suas roupas e túnicas.
Em outra, matou mil filisteus, com uma queixada de jumento.
Mais impressionante do que a força de Sansão, neste episódio, foi a resistência da queixada.
O segredo da força de Sansão estava em sua longos cabelos, que ele nunca cortara. O da resistência da queixada de jumento talvez estivesse numa dieta rica em cálcio.
Entra em cena Hedy Lamarr, digo, Dalila. Era bela, voluptuosa e doida por um mensalão da época, pago em ouro e prata pelos líderes filisteus ansiosos para se verem livres daquele cabeludo criador de casos.
Foram muitas as perguntas capciosas arguídas pela argentária Dalila para descobrir o segredo da força de Sansão, mas ele tirou todas de letra.
Um dia, inexplicavelmente, talvez por estar mais apressado para despojar Dalila das vestes e mostrar-lhe o que é bom para a tosse, Sansão revelou: “está em meus cabelos”.
Enquanto dormia, Dalila aplicou-lhe um corte à máquina zero. Sansão acordou mais fraco do que o crescimento do PIB brasileiro, foi subjugado, arrancaram-lhe os olhos e meteram-no na Gantánamo da época.
Mas o tempo passa e o cabelo cresceu. Infelizmente para os filisteus, Sansão não sofria de alopecia.
No dia em que os filisteus o levaram a um festival do deus Dagão, para dele zombarem, Sansão pediu ao agente da lei que o conduzia: “Deixe-me ficar entre duas pilastras”. (O agente da lei em questão era mais burro do que soldado inimigo em filme de guerra americano.)
Resultado: enquanto filisteus e filisteias enchiam a cara, Sansão encheu os pulmões, pediu a Jeová que lhe dessa renovadas forças, gritou “morra eu com os infieis” e jogou o templo no chão.
Morreram mais de três mil. O Velho Testamento glorifica Sansão, asseverando: “E foram muitos mais os que matou ao morrer do que os que matara antes, quando vivo”.
É a própria história do suicide bomber, sem a bomba.
Quem não tem cão, caça com Sansão.
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José Inácio Werneck
Direto da Redação
Cultura e Arte - Literatura
História
Opinião
Local: Brasil
Brasília - DF, República Federativa do Brasil
4 comentários:
Excelente artigo!
Uma ótima analogia esta sua. Parabéns pelo texto.
Abraços
Izabel
Olá Silvia e Izabel,
Obrigada pelo tempo dedicado ao comentário.
Fico feliz que tenham gostado.
Um abração.
Que texto primoroso Beth, parabéns!
O filme Sansão e Dalila com o Victor Maturi também povoou minha infância. Há poucos dias assisti-o novamente e notei que ainda não perdeu o encanto , ao contrário, tornou-se um belo épico!
A sua comparação com os tempos atuais foi espetacular, verdadeiro truque de mestre!
Obrigada pela partilha querida!
Beijos e ótima semana!!