Fragmentos da intolerância.
De todos os tipos de intolerâncias existentes em nossa sociedade, a que se impõe contra o Movimento Feminista é uma das que mais me incomodam. Não porque sou feminista ou porque não aceito a opinião alheia, mas pelo simples fato de tal relutância estar embasada em puro preconceito e alienação.
Então quer dizer agora que todas as mulheres são obrigadas a serem feministas? Não, não são.
Ainda que eu cultive esperanças de que todas as pessoas tenham a consciência de que o Feminismo é necessário para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária e, que acima de tudo é preciso militar, isso não quer dizer que todas as mulheres são obrigadas a serem feministas. Isto porque, para mim, as pessoas devem ser livres para serem o que quiserem, como quiserem e quando quiserem.
O problema é que sendo do gênero feminino, a sua liberdade é limitada e suprimida, seja pelos valores culturais machistas que “justificam” o estupro, o abuso, as cantadas indecentes, a passada de mão no ônibus ou metrô lotado; seja pela rua escura que te amedronta e te inibe de ocupar o espaço público, pelo(a) chefe que sabe que você precisa do emprego e te assedia moral/sexualmente ou pela violência doméstica. A sua liberdade é sufocada simplesmente pelo fato de você pertencer ao gênero feminino, ao “sexo frágil”, de ser mãe solteira, de não arrumar um marido, de se vestir como uma biscate, de “não se dar o devido respeito”, de estar acima do peso, de ter celulite…
Por estes e tantos outros motivos é que eu acho que sem o Feminismo você não é livre, ainda que não concorde comigo. Para mim, a melhor forma de combater a tal alienação é a informação. Contudo sei que este é um processo lento de desconstrução de “valores”, mas mesmo assim é preciso tentar.
O que é o Feminismo?
“O feminismo é um filosofia universal que considera a existência de uma opressão específica a todas as mulheres. Essa opressão se manifesta tanto no nível das estruturas como das superestruturas (ideologia, cultura e política). Assume formas diversas conforme as classes e camadas sociais, nos diferentes grupos étnicos e culturas.Em seu significado mais amplo, o feminismo é um movimento político. Questiona as relações de poder, a opressão e a exploração de grupos de pessoas sobre as outras. Contrapõe-se radicalmente ao poder patriarcal. Propõe uma transformação social, econômica, política e ideológica da sociedade.” (Ana Maria Amélia de Almeida Telles).
Apesar das idéias defendidas pelo Feminismo estarem muito claras, ainda há pessoas que pensam que nós queremos nos sobrepor aos homens e dominar o mundo, além de matar criancinhas, claro.
O Feminismo representa sim um meio utilizado para se quebrar determinados paradigmas sociais que se mostram opressores, mas sua finalidade não é a sobreposição hierárquica de um gênero ao outro, mas sim a igualdade entre ambos. Por isso que ele se mostra como:
“Um conjunto de idéias e práticas radicais que tenham o poder de subverter, mudar, transformar as ideias e práticas patriarcais que vivemos. Se entendemos que o sistema se organiza por um conjunto de instituições sociais, econômicas, jurídicas e culturais que atuam para preservar o poder do patriarcado – seja no capitalismo ou no socialismo-, temos que ir ganhando a noção de como nos relacionar com as instituições, mantendo nossa liberdade de pensar e exprimir idéias radicais e formas autônomas de organização”. Trecho da intervenção feita por Miriam Botassi em 1988, no Seminário do NEIM (Núcleo de Estudos interdisciplinares sobre a Mulher).
O que é ser feminista?
Não há uma definição do que necessariamente é ser feminista. Muitas pessoas são, mas não se assumem. Muitas pessoas assumem, mas não são. O importante, na prática, é saber o que o Feminismo como um todo busca e, perceber que no fundo é o que você também deseja. Afinal, não acho que ninguém goste de viver uma sociedade que oprime e mata as mulheres.
Por isso que sempre me pergunto: quem, no fundo, tem medo do Feminismo?
Fonte: blogueirasfeministas.com