Quase toda vez que baixo
um livro na internet vejo uma assinatura que acabou se tornando familiar:
Project Gutenberg.
Desenvolvi um
sentimento de admiração e gratidão, tantas as leituras que o Gutenberg tem me
proporcionado.
Nunca soube quem estava
atrás desse projeto até ler, certo dia,
um obituário.
Michael Hart, o
fundador, americano de Washington, morrera, aos 64 anos.
Poucos o conheciam, e no
entanto ele é uma daquelas poucas pessoas de quem se pode dizer, sem cair no
ridículo, que mudaram o mundo para melhor.
Ele inventou o ebook, o livro eletrônico. Jamais procurou a notoriedade
e nem o dinheiro: morreu pobre e reconhecido apenas por umas poucas pessoas.
Hart tinha um lema
atribuído a Bernard Shaw, segundo o qual são as pessoas insanas que
verdadeiramente empurram o mundo adiante ao fazer coisas pretensamente
absurdas.
Como ele fez.
Em 1971, foi concedido a
ele um tempo ilimitado num computador de uma universidade. Naquele tempo,
computador era uma raridade. Era 4 de julho, Dia da Independência dos Estados
Unidos. E então ele decidiu digitar o texto da declaração de independência, que
seria compartilhado por um punhado de amigos que estavam conectados àquele
computador.
Nascia o ebook.
Nunca mais ele deixou de
reproduzir textos. Hart digitou sozinho, inicialmente, livro após livro.
Depois, voluntários se juntariam a seu esforço para disseminar conhecimento.
Hoje, o Projeto Gutemberg tem um acervo de quase 40 000 livros eletrônicos.
Hart foi quem viu, antes
que os outros, que a verdadeira vocação do computador era espalhar
conhecimento, e não fazer cálculos. “A recompensa do conhecimento é o próprio
conhecimento”, dizia.
Numa outra grande frase, lembrou: “As pessoas não notaram
que os livros eletrônicos são a única coisa que poderão ter ilimitadamente além
do ar.”
Foi um herói da
humanidade.
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Paulo Nogueira/DCM