Para quem dedicou grande parte do tempo em “debater e lutar”, pela nas redes sociais, pedindo a renovação da política nas eleições proporcionais, e se esqueceu que a política passa necessariamente pelo Congresso Nacional, sinto informar que a renovação se deu em números, não no conteúdo.
Dados preliminares do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP, apontam o seguinte RX:
- Ruralistas: a bancada que é a principal rival da bancada ambiental e que não quer a regulamentação da Emenda Constitucional 81/13, que prevê a expropriação das propriedades urbanas ou rurais onde sejam identificados trabalhadores em situações semelhantes à de escravidão, elegeu 139 parlamentares.
- Parentesco: o DIAP identificou o parentesco político dos eleitos e reeleitos no pleito de domingo (5). Foram eleitos 43 (novos) e reeleitos 40, num total de 83. Nas eleições de 2010, foram eleitos 78 parlamentares com vínculos familiares. A eleição ou reeleição de parentes reforça a tese de circulação no poder. Em geral, parentes mais próximos como pais, filhos e cônjuges são herdeiros eleitorais uns dos outros e compartilham o mesmo perfil político e ideológico.
- Empresários: comporão a bancada 190 parlamentares. Destes, 30 novatos, e 160 que renovaram o mandato. Dois objetivos perseguiram a disputa por uma cadeira de deputado federal: a reforma tributária - com propósito de trabalhar pela redução da carga tributária, e maior competitividade da indústria nacional e mudanças, em bases precarizantes, na legislação trabalhista. Ou seja: lucrar mais, precarizar mais e pagar menos pela mão de obra.
- Mulheres: 50 mulheres que farão parte da próxima legislatura e representam 22 unidades federativas já que os estados do Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Sergipe não elegeram deputadas. As novatas são maioria entre as mulheres: 31. As outras 19 deputadas que completam a bancada feminina compõem a atual legislatura e foram reeleitas.
- Evangélicos: com base em diversas listas, checagem de material de divulgação dos candidatos, bases de dados, ouvidos analistas e especialistas, foi possível chegar a uma lista mais próxima do definitivo, com 72 nomes.
Em comparação com o grupo de 70 eleitos/as na atual legislatura, houve 3% de aumento de deputados identificados como evangélicos. Um número muito abaixo dos 20% ou 30% apregoados, e ainda bem inferior aos 14% celebrados pela FPE. Pode-se concluir então, que a retórica do terror sobre as “ameaças à família” e do “comunismo” não tiveram o efeito numérico almejado.
Assim, ainda de acordo com o DIAP, com resultado das eleições de 2014 para a Câmara dos Deputados, pode-se concluir que:
1) a “renovação” foi de 46,78%, sendo 273 reeleitos e 240 novos;
2) aumentou o número de partidos com representação na casa, passando de 22 para 28;
3) aumentou o número de mulheres na Casa, que passou de 47 para 51;
4) PT, PMDB e PSDB continuam, respectivamente, como a primeira, segunda e terceira bancadas;
5) dos três grandes partidos a partir de 2015, com mais de 50 deputados, apenas o PSDB cresceu;
6) dos sete partidos médios a partir de 2015, com entre 20 e 49 deputados (PSD, PP, PSB, PR, PTB, DEM e PRB), somente o PSB, o PTB, o PRB e o PR cresceram;
7) dos seis pequenos a partir de 2015, com entre 10 e 19 deputados (PDT, SD, Pros, PSC, PCdoB e PPS) apenas o PPS e o PDT;
8) dos três partidos muito pequenos a partir de 2015, com entre 5 e 9 deputados (PV, PSol e PHS) apenas o PV diminuiu;
9) dos nove partidos chamados nanicos a partir de 2015, com entre 1 e 4 deputados (PRP, PTN, PMN, PEN, PSDC, PTC, PRTB, PSL e PTdoB) apenas o PEN, e o PRP cresceram;
10) seis partidos que não tinham representação na Câmara (PHS, PTN, PTC, PSDC, PRTB e PSL) passaram a ter; e
11) deputados que atingiram quociente eleitoral passou de 36, em 2010, para 35, em 2014.
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Então, se o eleitor queria renovação, ele teve sua “expectativa” atendida. Afinal, ele é dono e responsável pelo seu (dele) voto.
Agora é só esperar para ver o presente, ou o pacote que ele vai receber da Casa legislativa.