Quando morreu, em 1802, morreu com ela uma parte da memória dos africanos na América.
Alice não sabia ler nem escrever, mas estava toda cheia de vozes que contavam e cantavam lendas vindas de longe, e também histórias vividas de perto. Algumas dessas histórias vinham dos escravos que ela ajudava a fugir.
Aos noventa anos ficou cega.
Aos cem, recuperou a visão:
- Foi Deus - disse -. Ele não podia me falhar.
Era chamada de Alice do Ferry Dunks, serviço de seu dono. Trabalhava no ferry que levava e trazia passageiros pelo rio Delaware.
Quando os passageiros, sempre brancos, debochavam daquela velhíssima, ela os deixava abandonados na outra margem do rio. Eles a chamavam aos gritos, mas não tinha jeito.
- Era surda a que havia sido cega.
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Como cega e surda é a casta sulista e branca do Brasil, quando se trata da ampliação dos direitos civis e sociais para todos. Por isso agridem os nordestinos e os pobres nas redes sociais.
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Os Filhos dos Dias.