No último final de semana, eu e minha
companheira fomos à primeira reunião do ano na escola pública em que meus
filhos estudam. Poderíamos ter matriculado os dois numa escola particular, pois
temos os recursos para isso. Inclusive, para nós seria muito mais fácil: não
teríamos que contratar uma babá, não teríamos que encher os dias deles com
outras atividades.
Apesar disso, escolhemos deixá-los na
escola pública que fica praticamente atrás do condomínio onde moramos, pois os
professores que lá ensinam têm uma grande dedicação, e por causa disso a
escola, a despeito de todos os seus problemas (que não são poucos) conseguiu
que seus alunos tirassem boas notas no SARESP, e hoje é uma das melhores
escolas públicas do estado. E além disso, frequentar essa escola é ter a chance
de entender que existe um mundo diferente além dos muros do condomínio onde
vivemos, e entendo que é essa também outra função da escola: expandir o tamanho
do mundo que temos em nossas cabeças.
Pois bem: a diretoria e os professores estão
preocupados. Mais do que isso, estão verdadeiramente assustados. A tensão entre
os alunos tem atingido níveis preocupantes, segundo eles. Os alunos estão mais
agitados e ansiosos do que nunca. Mesmo meu filho, que sempre foi da paz, que
detestava ter que se defender quando fosse necessário, tem dado sopapos nos
colegas. Que revidam, ensopapando-o também. De onde veio tanta agressividade?
Não me lembro de isso ter sido relatado pelos profissionais da escola há um
ano, quando meu filho começou a ir na escola e que foi o ano imediatamente
posterior às jornadas de junho 2013. O que mudou?
A única resposta que consigo enxergar é a
eleição do ano passado, onde a mídia fez de tudo para rachar o país, impondo o
jogo de "nós vs. eles" - jogo no qual todos nós fomos tragados, cada
qual em seu campo, e que um dos lados insiste em continuar jogando, mesmo que a
fatura tenha sido liquidada no 2º turno. Desde então, o ódio ininterrupto tem
sido a tônica da mídia. E isso, claro, contamina as pessoas. Além de mim, quem
é que não assiste o JN toda noite? E quem disse que outros jornais contam uma
história diferente, nuançada? Como diz minha companheira, é um bombardeio sem
limites, todas as noites. Não sei se eu mesmo não teria sucumbido, se
assistisse jornal toda noite. E isso, independentemente da classe social,
porque a mensagem que é passada a quem tem TV por assinatura é a mesma.
No rádio, é a mesma coisa. Um colega me
conta que só ouve a Jovem Pan porque ela fica malhando o governo municipal
ininterruptamente, sem dó nem piedade. Por que esse prazer de se lambuzar de
ódio, de raiva? Detalhe: esse cara vai ser pai em breve! O que será que ele vai
ensinar ao filho dele? Imaginem agora isso transplantado pros pais das crianças
que frequentam a escola - não só a de meu filho, mas também todas as outras.
Isso é bom para as crianças? Isso é bom para as famílias? Pois o que acontece
com isso é que o niilismo acaba por ser instilado em crianças de 7, 8 anos de
idade. É isso que a mídia quer? Que as crianças cresçam completamente
descrentes do futuro e se transformem em meros consumidores, ao invés de
cidadãos?
E os pais?
*****
Zarastro/DCM