Em uma viagem de Havana a Manágua, falando de coisas de um tempo em que as mortes de amigos e companheiros estavam na ordem do dia, Cortázar me disse, simplesmente o seguinte:
– Emir, a morte é inaceitável.
O que mais acrescentar a isso?
E que morte hoje é mais inaceitável do que a do Galeano, do Eduardo, do Dudu?
E que palavras para expressar o sentimento, para tentar descrever o que é a vida dele, o que nos deia, a falta que nos fará?
Dizer que era o melhor escritor latioameircano contemporâneo, o melhor ensaísta, o melhor jornalista, o melhor ser humano – não basta. Faltará sempre algo, que só os que tivemos o privilegio da convivência podemos avaliar ou sentir.
Ele nos deu um tempo para sentirmos o que seria a vida sem ele, conforme resistia duramente a doença – “é uma luta aqui dentro do dragão da maldade contra o santo guerreiro”, dizia ele. Mas ninguém pode aceitar uma ausência como a dele.
Inaceitável, Dudu, inaceitável.
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De:Emir Sader
Para: Eduardo Galeano
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