Juliana talvez tenha saído para beber em um dos badalados bares do Itaim Bibi.
Juliana, na foto ao lado, talvez em uma mesa com os amigos, poderia ter dito que não aguenta mais viver em país de políticos corruptos e com tanta impunidade. Juliana também poderia ter reclamado do flanelinha que lhe pediu dinheiro para cuidar de seu carro naquela noite de sábado.
Ela poderia ter saído de casa de táxi, o qual teria dinheiro para pagar. Ela poderia ter saído de casa com um carro do Uber, o qual teria dinheiro para pagar.
Mas ela preferiu sair de carro.
Juliana preferiu beber e dirigir.
Ela poderia achar que as leis não funcionam no Brasil e por isso ela nunca seria flagrada dirigindo sob o efeito do álcool.
No final daquela madrugada de domingo, Juliana atropelou e matou José e Raimundo, que trabalhavam nas obras de um ciclovia na Zona Norte de São Paulo.
Enquanto Juliana bebia, José e Raimundo acordavam para mais um dia de trabalho com um salário mínimo. José e Raimundo talvez não tivessem carro. José e Raimundo talvez tivessem chegado ao trabalho de ônibus.
José e Raimundo não tinham dinheiro para pegar um táxi ou um Uber.
É claro que José e Raimundo poderiam ter atropelado alguém se estivessem dirigindo embriagados. Mas se José e Raimundo fossem presos, acusados de atropelar e matar alguém, eles não teriam 15 mil reais para pagar uma fiança. José e Raimundo estavam trabalhando por um salário que, em um ano, dificilmente pagaria uma fiança de 15 mil reais.
Talvez Juliana soubesse de tudo isso. Mesmo assim, ela entrou no carro alcoolizada e dirigiu. Juliana poderia ter achado que a lei não funciona no Brasil. Juliana poderia ter achado que ela chegaria em casa sem ser flagrada bêbada ao volante. Juliana tinha certeza que chegaria em casa.
E chegou, porque tinha 15 mil reais.
A liberdade existe para quem pode pagar.
Pedro Henrique Tavares