Se tem uma coisa que eu não entendo na gritaria contra as cotas e os direitos LGBTs e femininos é um mal disfarçado complexo de inferioridade embutido nela. Volta e meia leio comentários do tipo: “os negros não estão lutando por direitos iguais, eles querem ser SUPERIORES a nós”; “as mulheres não querem ter direitos iguais, elas querem MANDAR nos homens”; “os homossexuais não estão lutando contra a intolerância, o que eles pretendem é implantar uma DITADURA gay!”
Qual o problema com este pessoal? Do que eles têm medo, afinal?
Será que os racistas temem que, com oportunidades iguais, os negros se mostrem mais capazes do que os brancos? Será que os homofóbicos temem que gays e lésbicas, com direitos iguais, se mostrem mais eficientes do que os heteros? Será que os machistas temem que o mundo descubra que as mulheres, com salários iguais, são melhores profissionais do que os homens? Só alguém com um baita complexo de inferioridade pode pensar assim. E é curioso vindo de gente que se acha tão “superior”.
Quem não tem competência não se estabelece!
A liberdade de escolher quem amar dos LGBTs deve incomodar muita gente, mesmo, mas me espanta ver alguns se queixarem de que o objetivo de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros é implantar uma “ditadura”. Ora, essa ditadura já existe e exclui quem tem uma orientação sexual diversa desde o princípio dos tempos. Uma pessoa precisa ter sérios problemas de auto-estima para achar que quando os homossexuais exigem o fim do preconceito estão, na verdade, querendo ameaçar direitos de quem os possui de sobra.
A autonomia da mulher de decidir com quem se deita ou o tipo de roupa que quer usar também deve incomodar muitos machistas que pensam ter o domínio sobre os corpos femininos. O hilário é que estes homens, para tentar desesperadamente manter essa dominação, dizem que a mulher está lutando… para passar a ter este domínio sobre eles! Por isso chamam de “feminazis” as mulheres que sabem muito bem quais são seus direitos, que são donas do próprio destino e que não se deixam submeter. Como se eles fossem as “vítimas” e não elas. Aliás, que medinho que as “feminazis” dão a vocês, hein?
O mesmo acontece com os negros: enquanto eles estavam quietinhos trabalhando como serviçais na casa grande, os racistas não se sentiam incomodados. Racismo, aliás, era só “uma piada de salão”, brincadeirinha, gente. “No Brasil não existe racismo”, decretou o porta-voz dos senhores de engenho televisivos. Agora que os negros lutam contra ter seus direitos ceifados em virtude da cor da pele, o racismo velado veio à tona na forma de temor de que eles queiram revanche. Como assim os negros querem “mandar”, se há 500 anos quem manda é você, cara-pálida?
Botem seu complexo de inferioridade no saco e fiquem tranquilos. Nós, as “minorias”, não estamos lutando para ser hegemônicos. Não somos como vocês, supremacistas. Queremos que TODOS sejam iguais. Não é bizarro? Ao mesmo tempo que racistas, machistas e homofóbicos detêm o poder, mostram-se inseguros de perdê-lo para pessoas que lutam por IGUALDADE. Ou será que, lá no fundo, eles não se sentem tão “superiores” assim?
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