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Última Parte: 12 livros feministas que você precisa conhecer

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Para uma melhor reflexão, vou mencionar em cada post, apenas três.

Para ler o post anterior clique aqui.

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Fundamentos para uma leitura crítica do mundo social

As reflexões produzidas pelo feminismo – numa economia expressiva, já que se trata na realidade de feminismos, no plural – colocam questões fundamentais para a análise da opressão às mulheres nas sociedades contemporâneas. Mas não é só da posição relativa das mulheres que trata a crítica feminista.

O conjunto cada vez mais volumoso dos estudos feministas expõe os limites das democracias quando estas convivem com a exploração e a marginalização de amplos contingentes da população.

Analisam, assim, mecanismos que operam para silenciar alguns grupos e suspender a validade das suas experiências – eles operam de maneira específica sobre as mulheres, mas não se reduzem a uma questão de gênero. Tratam das conexões entre o mundo da política, o mundo do trabalho e a vida doméstica cotidiana. Na produção mais recente, sobretudo, apresentam contribuições incontornáveis para o entendimento de como diferentes formas de opressão e de dominação operam de forma cruzada e sobreposta. Cada vez mais, falar da posição das mulheres é falar de como gênero, classe, raça e sexualidade, para mencionar as variáveis mais mobilizadas, situam conjuntamente os indivíduos e conformam suas alternativas.

Em sua diversidade, a produção feminista questiona a subordinação e confronta, permanentemente, discursos que se fundam na “natureza” para justificar a opressão.

A lista que apresentamos traz um conjunto (entre muitos outros possíveis) de leituras feministas que colaboram para entender o mundo contemporâneo e os desafios que enfrentamos para a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais livre. A ordem segue de maneira aproximada a data da publicação original das obras.

10. Susan M. Okin – Justice, gender, and the family (New York: Basic Books, 1989).
As tensões entre o universal e o específico atravessam o debate feminista. Vale lembrar que o liberalismo não incide apenas na reflexão das feministas liberais, mas alimenta historicamente as concepções da individualidade mobilizadas na luta pelos direitos das mulheres. Mesmo entre aquelas que podem ser definidas como liberais, como Okin, deslocamentos significativos se impõem quando a perspectiva feminista é considerada. Justice, gender, and the family, de 1989, é um exemplo importante de como isso se dá. Nele, a autora organiza sua crítica às teorias da justiça que não colocam em questão as relações na esfera doméstica – os comunitaristas estão entre seus alvos principais, mas seu diálogo com John Rawls é um ponto alto na reflexão, justamente por expor os deslocamentos antes mencionados. A vulnerabilidade das mulheres em sociedades estruturadas pelas diferenças de gênero, central à análise de Okin, permite discutir a oposição entre o público e o privado como um dispositivo de reprodução da dominação e de limitação da autonomia das mulheres. (Um artigo que resume parte do argumento do livro foi traduzido para o português e publicado na Revista Estudos Feministas.

11. Nancy Fraser – Justice interruptus (New York: Routledge, 1997).
Fraser, uma filósofa estadunidense, parte da reflexão feminista para construir uma teoria normativa abrangente da política. No texto mais conhecido de Justice interruptus, ela propõe um modelo bidimensional de lutas por justiça, que inclua tanto a redistribuição material quanto o reconhecimento das diferenças. Seu objetivo é superar tanto o reducionismo que marcaria a reflexão marxista quanto o idealismo das correntes que, focadas na mudança cultural, ignoram a economia política. Outro capítulo que teve enorme impacto faz a crítica ao conceito habermasiano de “esfera pública”, avançando a ideia de que os grupos em posição subalterna precisam formar “contrapúblicos” para produzir suas demandas. O livro inclui também textos importantes sobre a relação entre gênero, trabalho e família, sobre o Estado de bem-estar e uma cuidadosa crítica de aspectos da obra de Carole Pateman. (Dois capítulos do livro estão traduzidos para o português. Um está na coletânea Democracia, hoje, organizada por Jessé Souza. Brasília: Editora UnB, 2001; outro, na coletânea Teoria política feminista: textos centrais, organizada por Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli. Vinhedo: Horizonte, 2013)).

12. Patricia Hill Collins – Black feminist thought (Boston: Hyman, 1990).
Collins destaca o potencial das experiências e do pensamento das mulheres negras para a crítica a uma matriz de dominação fundada simultaneamente na raça e no gênero. A abordagem teórica que dela emerge enfoca as conexões entre experiência e consciência, fiel a uma das principais contribuições das abordagens feministas e do feminismo negro especificamente, que é a atenção à experiência vivida das mulheres. Uma epistemologia feminista e antirracista depende, assim, da compreensão dos contextos de produção do conhecimento. Todo conhecimento é situado e o modo que a produção do conhecimento se dá tem efeitos direitos nas vidas das pessoas e nas hierarquias sociais. A tensão entre a vivência concreta dos indivíduos e sua marginalidade na produção do conhecimento é um tema central na sua elaboração – daí a importância da noção de “conhecimento subjugado”, com grande potencial para uma agenda feminista que continue a apostar na articulação entre vivência, produção do conhecimento e luta política.

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Autores: Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel.

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