E as que jamais me esquecerei...
-“Vou morrer defendendo os mais necessitados, e quem não gostar que como menos ou, engula a seco”.
-“E não adianta não querer enxergar a realidade apenas por pura fobia social, arrogância típica de quem tem e sempre teve a barriga forrada”.
-“Concentrar é fácil. O desafiador é dividir o lucro e o futuro”.
As afirmações acima eu ouvi pela primeira vez quando ainda não tinha dez anos e nunca mais me saiu da cabeça. Creio que foi por essa época que decidi militar em favor dos mais necessitados, já que eu era de alguma forma um deles.
Um estudo inédito de pesquisadores brasileiros, publicado na edição de maio da revista inglesa The Lancet, revela que o Programa Bolsa Família teve contribuição decisiva para a queda da mortalidade de crianças menores de 5 anos, de 2004 a 2009. Segundo os pesquisadores que fizeram o trabalho, as taxas de mortalidade infantil tiveram redução de 17% na mortalidade de crianças menores de 5 anos, entre 2004 e 2009.
A pesquisa foi feita com dados de cerca de 50% dos municípios brasileiros e revela que o programa contribuiu, principalmente, para a redução dos óbitos em decorrência da desnutrição. A pesquisa registra que o Programa Saúde da Família também contribuiu para a queda dos números.
Programa ataca causas diretas da mortalidade infantil
Realizado em 2.853 municípios brasileiros, o estudo apontou que a ação direta do Bolsa Família na queda da mortalidade de crianças foi ainda maior quando a causa está relacionada à segurança alimentar. Ou seja, o programa foi responsável direto pela diminuição de 65% das mortes causadas por desnutrição e por 53% dos óbitos causados por diarreia
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De acordo com o pesquisador Maurício Lima Barreto, coordenador do Instituto Nacional de Ciência, Inovação e Tecnologia em Saúde da Bahia (INCT-Citecs), que liderou o grupo de estudo, “os resultados fornecem evidências de que programas de transferência condicional de renda como o Bolsa Família, juntamente com uma estratégia de atenção básica eficaz, podem fortemente reduzir a mortalidade na infância, em particular por causas relacionadas à pobreza”.
A pesquisa foi coordenada por Maurício Lima Barreto, coordenador do Instituto Nacional de Ciência, Inovação e Tecnologia em Saúde da Bahia (INCT-Citecs). Além dele, participaram do grupo de trabalho o mestre em saúde comunitária da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Davide Rasella, e outros pesquisadores brasileiros, como Rosana Aquino, Carlos A. T. Santos e Rômulo Paes de Sousa.
O estudo que trata dos efeitos dos programas de transferência condicional de renda na mortalidade infantil: uma análise dos municípios brasileiros ganhou destaque com a publicação na revista The Lancet, periódico científico especializado em saúde do Reino Unido.
Conforme os resultados do levantamento, em municípios com cobertura consolidada do Bolsa Família (atingindo quase 100% do público-alvo por mais de quatro anos), a mortalidade de crianças de até 5 anos, causada por infecções nas vias respiratórias, foi 20% menor que em cidades com cobertura baixa do programa (até 17%).
Dentro do período pesquisado, o Brasil saiu de uma taxa de mortalidade infantil de 21,7 mortes em cada mil nascidos, em 2004, para 17,5 óbitos, em 2009 – uma queda de 19,4%, sempre considerando os quase 3 mil municípios pesquisados. Por causa específica, a queda se acentua no número de mortes por desnutrição e doenças diarreicas – respectivamente de 58,2% e 46,3%.
Os dados da pesquisa revelam que os índices de queda são mais relevantes em municípios com maior cobertura do Bolsa Família. Nas cidades com cobertura quase total do público-alvo, acentua Lima Barreto, “é possível dizer que em cada 10 crianças que seriam vítimas da desnutrição, seis sobreviveram devido às ações do programa”. O estudo, acrescenta, está de acordo com a hipótese de que o Bolsa Família melhorou as condições nutricionais de seus beneficiários.