A novela Pecado Mortal em exibição na Record e ambientada no Rio de Janeiro, retrata a história e desenvolvimento do jogo do bicho e seus bicheiros. Mas não apenas isso: mostra cruel e fielmente o envolvimento nocivo do poder público, banqueiros, políticos e imprensa – já naquela época, e o jeito do carioca de “fazer uma a fezinha”.
- “O jogo do bicho até pode ser ingênuo. O bicheiro não!”. Profetiza acertadamente, a personagem/promotora.
- “O Estado não sobe morro e não cobre as necessidades do povo”. Argumenta a personagem bicheira - sim há mulheres comandando o bicho.
Não subia. Hoje sobe e desce, inclusive de teleférico. E a Comunidade do Complexo do Alemão, por meio do PAC, com as suas sete estações, está aí para provar e contrariar os traficantes.
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O Barão de Drummond, fundador do bairro de Vila Isabel, de Noel Rosa, em 1873, é mais lembrado por ser o criador do jogo do bicho. Drummond fundou o primeiro jardim zoológico da cidade do Rio de Janeiro, e contratou um engenheiro para traçar e pavimentar as primeiras ruas de Vila Isabel, na antiga Fazenda do Macaco - hoje Morro dos Macacos.
Ganhou o título de barão porque alforriou todos os seus escravos antes da abolição da escravatura. A Vila ganhou o nome de Isabel em homenagem à princesa, que libertaria os escravos 15 anos depois. E, no começo, os nomes das ruas, avenidas e praças do bairro eram todos de pessoas e datas ligadas ao movimento abolicionista.
O jogo do bicho foi apenas um pretexto que o barão usou para incentivar as pessoas a frequentar o jardim zoológico. Assim, cada ingresso vendido possuía um número e, no final da tarde, havia um sorteio para um prêmio, em dinheiro, pago ao dono do ingresso sorteado. Cada número representava um animal e, por conta disso, o sorteio foi chamado de jogo do bicho. Tempos depois, o jogo do bicho passou a ser realizado fora do jardim zoológico - sem o rato, o javali, a girafa, o tucano e a zebra.
Passa o tempo, e aquilo que seria um simples passatempo transformou-se em uma atividade financeira para os bicheiros, e uma espécie de poupança sem banco – mas, com Banca, para o carioca.
A verdade é que há uma cortina de fumaça escamoteando o moralismo institucional/jurídico/social, que existe em torno da bicharada. Já os valores agregados, como tráfico internacional de drogas e armas, máquinas caça-níquéis, tráfico de pessoas, prostituição e aliciamento de menores, tudo isso regado a muito samba e cerveja, foi-se na “ingenuidade” do jogo. Restou a ganância dos bicheiros. Saíram do "jogo" os ingênios e entraram os profissionais com seus cartéis, esquemas, e facções.
Vida que segue.. E as as águas continuam a rolar nas “cachoeiras” das ruas e esquinas, não importando o lugar....
Até na Esplanada tem banca. Banca de jogo e, banca, sinônimo de pose.
Ainda assim, não são raras as cenas em que vemos gente à busca do apontador do jogo para fazer uma ‘fezinha’. Seja no Calçadão de Madureira, seja nas ruas ao entorno do Calçadão de Copacabana. E quando o Bicho foi misturado ao Samba, deu samba do crioulo doido.
Não é para menos: os dois fazem a alegria do povão. Um, o ano inteiro. O outro, uma vez ao ano.
E com o fim do desfile das Escolas de Samba da maior e mais importante festa pagã do planeta, celebrada mundialmente, é hora de se perguntar:
E neste carnaval carioca, o que será que dará: Águia na Cabeça, o símbolo da paz, na cabeça?
Ou alguma incompatibilidade? Vamos ver hoje, após a apuração.