O Dia do Trabalhador/a Doméstico.
Maruja não tinha idade.
De seus anos de antes, nada contava. De seus anos de depois, nada esperava.
Não era bonita, nem feia, nem mais ou menos.
Caminhava arrastando os pés, empunhando o espanador, ou a vassoura, ou a caçarola.
Acordada, afundava a cabeça entre os ombros.
Dormindo, afundava a cabeça entre os joelhos.
Quando falavam com ela, olhava para o chão, como quem conta formigas.
Havia trabalhado em casas alheias desde que tinha memória.
Nunca havia saído da cidade de Lima.
Fez muita faxina, de casa em casa, e não se achava em nenhuma delas.
Finalmente, encontrou um lugar onde foi tratada como se fosse uma pessoas.
Poucos dias depois, foi-se embora.
O carinho estava virando costume.
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Os Filhos dos Dias,
Eduardo Galeano
Para Maria,
Uma mulher lutadora e nordestina, que ajudou a construir São Paulo, como tantas outras.