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Paulina: O Filme aborda cultura do estupro, respeito às vítimas e (in) justiça

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Em 'Paulina', do diretor argentino Santiago Mitre, protagonista escolhe caminho incompreensível para superar o trauma e a dor da violência sexual.

'Quando há pobres envolvidos, a polícia não busca a verdade, busca culpados'

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Já nos primeiros minutos de Paulina é possível sentir que as convicções políticas e sociais são os verdadeiros protagonistas do novo filme de Santiago Mitre, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros. O longa-metragem argentino conta a história de Paulina (Dolores Fonzi) que, depois de estudar direito em Buenos Aires, decide voltar para Posadas, no interior do país, para se dedicar à formação política em uma comunidade carente na sua cidade, na fronteira entre a Argentina e o Paraguai. Um dia, quando volta da casa de uma amiga, ela é estuprada por um grupo de rapazes.

A história é uma releitura de La Patota, dirigido por Daniel Tinayre em 1961. Sem o tom religioso do original, o novo filme se debruça prioritariamente sobre questões sociais e a origem da violência, assim como o respeito integral à vítima. Uma das frases mais marcantes do longa é quando Paulina argumenta com seu pai (Oscar Martínez), o juiz Fernando, que não quer que seu caso seja investigado: “Quando há pobres envolvidos, a polícia não busca a verdade, busca culpados”.

“Não tinha assistido à versão original até que eles me disseram para trabalhar em sua adaptação. Vi o filme uma vez e decidi nunca mais assisti-lo: uma vez fora o suficiente. Havia algo no personagem de Paulina que me deu um estalo, me colocou em apuros. No início, tentei compreendê-la, e logo percebi que era impossível, que não tinha que entender Paulina, e que justamente aí estava o que me interessava nessa história. Paulina é movida por uma força de sobrevivência que beira o irracional e essa força é o que move o filme, que nos arrasta junto com ele”, afirma Santiago Mitre.

Segundo o diretor, o remake é uma espécie de fábula política: “A versão original trabalhava com uma ideia do perdão através de parâmetros morais e religiosos. Para mim, a religião não interessa, mas percebi que poderia trabalhar com os temas do filme em outra perspectiva, e tentar construir uma fábula política, onde a convicção estivesse no centro. De alguma forma, o que a religião representava na versão original, foi suplantada por outro tipo de crença: a ideologia. Quão longe você pode levar uma convicção social?Qual é o limite da ideologia? Com estas perguntas, Paulina embarca em uma busca pessoal, e sozinha sofre pela dor que viveu. O que a faz se identificar com outras mulheres que sofreram violência semelhante, é a mesma e dolorosa pergunta: como você sobrevive a isso?”

Com uma gravidez decorrente do estupro, as decisões da protagonista são questionadas e criticadas o tempo todo pela família e pelos amigos. Ninguém se abre para tentar compreender que cada pessoa reage de forma diferente à dor e ao trauma. E, como se não bastassem a humilhação da violência física, o filme explora algo que também é bem conhecido no Brasil: a incompetência policial para tratar de casos como este. Na delegacia, Paulina é submetida a outro tipo de violência: sem rodeios, o policial lhe pergunta sobre o tipo de roupa que estava vestindo, se estava bêbada e por que não reagiu.

Como não poderia deixar de ser, a obra é densa e tensa, causa mal-estar em qualquer pessoa que tenha o mínimo de empatia. É por isso que, mais do que um ótimo filme, Paulina também é útil porque propõe um exercício de reflexão profunda sobre o respeito às vítimas de estupro. “Um dos desafios que Paulina coloca é como respeitar as decisões com as quais não concordamos. É fácil respeitar as decisões que você mesmo tomaria, mas torna-se quase impossível quando temos que compreender as coisas que consideramos erradas. Por que Paulina decide o que decide? O que procura? O que quer provar? É algo que nos perguntamos muito durante o filme, e continuamos a nos perguntar agora, e espero que o espectador se pergunte também", afirma Santiago, que conversou com diversas mulheres que trabalham dando assistência psicológica a vítimas de violência.

O filme foi o vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica, no Festival de Cannes, e da Mostra Horizontes Latinos, no Festival de San Sebastián, em 2015, além de ser exibido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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Fonte: Rede Brasil Atual - RBA)))

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