Mudança de reino.
Neste dia de janeiro de 1808, chegaram à costa do Brasil, sem pão e sem água, os extenuados navios que dois meses antes havia partido de Lisboa.
Napoleão pisoteava o mapa da Europa, e já estava atravessando a fronteira de Portugal quando se desatou a correria: a corte portuguesa, obrigada a mudar de domicílio, marchava rumo ao trópico.
A rainha Maria encabeçou a mudança. E atrás dela foram os príncipe, os duques, condes, viscondes, marqueses e barões, com as perucas e as roupas faustosas que mais tarde foram herdadas pelo carnaval do Rio de Janeiro.
E mais atrás, amontoados no desespero, vinham sacerdotes, chefes militares, cortesãs, costureiras, médicos, juízes, tabeliães, barbeiros, escrivãs, sapateiros, jardineiros...
A rainha Maria não andava lá muito boa da cabeça, para não dizer que estava louca de pedra, mas foi ela que pronunciou a única frase lúcida que se ouviu no meio daquele manicômio:
-Não corram tanto, que vai parecer que estamos fugindo!
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Os Filhos dos Dias.