Poucas coisas são mais cultuadas que a paixão romântica. É bonito, dizem, estar apaixonado. Você volta a ser um adolescente sonhador, iconoclasta, mesmo que já tenha passado dos 30 ou mesmo dos 40. Você retoma a criatividade embolorada. É capaz até de mandar flores e, mais ainda, de escrever versos lindamente medíocres. Você se olha com renovado interesse no espelho. Capricha no penteado depois de anos de desleixo. Refaz o guarda-roupa. Considera até a possibilidade de se depilar para ficar na moda ou parecer mais atraente para ela.
Viagra, talvez, para não correr riscos de mau desempenho. Alguns pensam até na hipótese de aprender a tocar violão para impressioná-la com um dedilhado que será inevitavelmente tosco. E todos com certeza cantam alto em seu carro as músicas adocicadas prediletas que colocam para ouvir e se inspirar neste momento mágico de deslumbramento.
A paixão é linda, é o que dizem. E é também horrível. Uma das aberturas de romance mais aclamadas da história da literatura diz o seguinte: “Era o melhor dos tempos, e também o pior”. O autor é Dickens.
O mesmo se aplica para a paixão. Ela nos eleva e nos rebaixa ao mesmo tempo. Vou ser direto: a paixão nos faz burros, ridículos, irresponsáveis. O mais complicado é que ela faz tudo isso e além do mais nos engana: temos a convicção de que ela nos torna o oposto. Charmosos, quase irresistíveis.