Dom Casaldáliga está marcado para morrer.
Ameaçado de morte por ruralistas, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, de 84 anos, foi forçado a deixar na sexta 7, a casa em que residia na cidade de São Félix do Araguaia, a 1.159 quilômetros de Cuiabá (MT).
Um dos maiores representantes da Teologia da Libertação e ativo defensor das comunidades indígenas, Dom Pedro passou a sofrer ameaças diretas após a decisão da Justiça da retirada dos grileiros das terras dos índios Xavantes.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), um grupo de jagunços anunciou abertamente que Dom Casaldáliga “era o problema” da tensa região e que “faria uma visita para ele”. Por precaução, a Polícia Federal retirou o religioso da cidade, devido à vulnerabilidade da humilde residência em que ele vivia há muitos anos. A PF alegou temer por sua segurança, já que a casa nem sequer possui muros e o bispo emérito com a saúde debilitada, em decorrência de sofrer do “mal de Parkinson”.
Assim, na madrugada da última sexta-feira (7), por volta das 5h, escoltado por policiais, ele seguiu em voo fretado rumo à Brasília, onde foi recebido por outra equipe da PF, e deverá permanecer em local não informado.
Pedro, Pedro Tierra, Milton
Conhecido como bispo dos pobres, Dom Pedro Casaldáliga ganhou projeção mundial por sua corajosa resistência à ditadura militar. Ele sempre esteve ligado às lutas das camadas mais carentes da sociedade. Com a guinada conservadora no Vaticano a partir dos anos 1990, o bispo emérito sofreu forte pressão da cúpula da Igreja Católica, que estava incomodada com a Missa dos Quilombos – mais tarde gravada em disco, celebrada pela primeira vez em 20 de novembro de 1981, em Recife (PE), para um público de 8 mil pessoas. A Missa dos Quilombos foi concebida pelo próprio Dom Pedro, o poeta Pedro Tierra e o cantor e compositor Milton Nascimento, que fez todas as músicas.
Em 2005, ele se aposentou, mas continuou residindo em São Félix do Araguaia e participando das lutas na região. Dedicava-se, especialmente, à defesa das comunidades indígenas, perseguidas pelos latifundiários.
As ameaças contra ele ficaram ainda mais explícitas a partir da decisão da Justiça sobre a Terra Indígena Marãiwatsédé. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), a reserva foi homologada por decreto presidencial em 1998 e reconhecida por sucessivas decisões judiciais, legitimando o direito constitucional do povo xavante de voltar a viver em seu local originário.
E, passado tantos anos, fazendeiros ligados à UDR, hoje travestidos de DEM, continuam a assombrar o povo do campo.