Um dos maiores compositores da MPB
A Verdade entrevistou Janes Rocha, escritora e jornalista carioca, autora do livro Os Outubros de Taiguara, livro-reportagem lançado pela gravadora Kaurup.
Na entrevista Janes Rocha conta como surgiu a ideia do livro e revela que Taiguara foi um dos artistas mais perseguidos pela Ditadura, principalmente por seu apoio a Luiz Carlos Prestes e sua defesa firme do comunismo.
Porém, a grande mensagem de Taiguara está em suas canções.
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A Verdade – Além de resgatar a obra deste que é um dos maiores compositores da MPB, o que te levou a escolher a história de Taiguara para ser publicada em livro?
Janes Rocha – Este trabalho foi feito por mim a pedido da Kuarup Produções, empresa que detém um contrato de curadoria da obra de Taiguara junto à família dele. Em princípio, eu iria apenas levantar os documentos no Arquivo Nacional. Até então, sabíamos que ele havia sido um dos mais perseguidos da Ditadura, mas não sabíamos quanto. Ficamos impressionados com os números, então decidimos fazer um livro que não é bem uma biografia, na verdade, é um livro-reportagem. Centramos o trabalho na questão da censura e de seu ativismo político muito mais do que em questões pessoais.
Como livro biográfico é o primeiro, porém encontrei duas teses de mestrado e doutorado sobre ele realizadas por pesquisadoras da Universidade de Brasília, muito boas também, e que estão incluídas na bibliografia de Os Outubros de Taiguara.
Você encontrou alguma barreira na preparação deste livro?
Não, ao contrário. O Arquivo Nacional dá amplo acesso aos documentos. A família dele foi muito bacana, apoiou e ajudou no que pode, todos, mas especialmente Moína Lima, Marcelo Borghi e Eliane Potiguara. Algumas pessoas que eu pretendia entrevistar, amigos, músicos e políticos, não quiseram falar, ou colocaram dificuldades. Mas creio que mais por questões pessoais que eu respeito, ninguém é obrigado a dar entrevista.
A tecnologia foi importante para a recuperação das músicas. Taiguara deixou inúmeras canções em fitas cassete que nunca haviam sido gravadas em vinil ou CD. A Kuarup, com o trabalho de uma equipe de especialistas, artesãos da música, liderados por Pedro Baldanza, conseguiu recuperar e remixar muitas delas. Se você entrar no site www.taiguara.art.br/ele_vive.html vai poder acessar o disco Ele Vive, que está sendo lançado junto com o livro.
Taiguara foi um dos compositores que despertou ódio por parte do Regime Militar. O que causou todo esse ódio, já que ele chegou a ser um dos cantores mais famosos do Brasil na época dos festivais?
Ninguém apresentou uma resposta pronta a essa questão. Muitos acham que ele foi perseguido por sua aproximação com Prestes. Isso só é verdade a partir de 1980, quando ele conhece Prestes e dá início à sua atividade política mais aguerrida. Porém, ele já vinha sendo perseguido muito antes disso, aliás, os documentos das músicas censuradas vão do período 1970-1974, ou seja, antes de seu contato com Prestes.
E o motivo para a perseguição inicial da censura é, na verdade, pura implicância com algumas letras mais sensuais. A primeira música dele censurada não tinha nada a ver com política, foi “Corpos nus”, de 1971, que ele pretendia apresentar no VI Festival Internacional da Canção promovido pela Rede Globo.
Eu acredito, por tudo que pesquisei e pelas informações dos meus entrevistados, que ele se expôs mais que os outros artistas, daí ter atraído a atenção dos censores. Ele radicalizou suas posições, principalmente na sua volta nos anos 80, quando se alia ao Luiz Carlos Prestes. Nesse momento, ele não só entrou na mira do SNI, mas também começou a perder mídia por seu discurso ácido em defesa do comunismo.
Qual a mensagem que você acha que ficou mais forte da obra de Taiguara?
Acho que Taiguara deixou como legado um exemplo de luta e sacrifício com seu ativismo político em defesa da democracia.
Porém, a grande mensagem de Taiguara está em suas canções. Quase todos se lembram dele mais por suas letras românticas dos anos 60 que, de fato, são belíssimas. Mas acredito que a mensagem que ele queria transmitir está nas músicas que fez a partir do álbum “Imyra, Tayra, Ipy Taiguara” (de 1976, inteiramente censurado e recolhido das lojas). Neste álbum, ele começa a fazer uma fusão de ritmos contemporâneos (bossa nova, jazz, pop) com o regional (chamamé, guarânia), que vai aperfeiçoando daí para frente nos discos seguintes, o “Canções de Amor e Liberdade” (1984) e “Brasil Afri” (1994). Além de lindas canções do ponto de vista artístico, são também uma mensagem de integração latino-americana, de integração dos povos e raças que formam o nosso Brasil.
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Cloves Silva, estudante de Letras da UFRPE e militante da UJR