Aos poucos eles vão deixando as catacumbas e porões da repressão, com as informações. Vão abrindo a boca e contando a verdade. O motivo? Consciência pesada, no mínimo. "Não existe dor que doa mais, do que a dor de consciência, me segredou uma vez um militar torturador..."
Em entrevista à Globonews, Paulo Egydio Martins, governador de São Paulo entre 1975 e 1979 afirmou que suicídio do jornalista Vladmir Herzog foi maquiado e que, de fato, ele foi assassinado dentro das dependências do II Exército, na rua Tutóia, em São Paulo. Paulo Egydio Martins também afirmou que está disposto a depor à Comissão da Verdade.
É a primeira vez que uma autoridade da época admite o assassinato, indo de encontro a versão oficial do regime, segundo a qual Herzog havia sido "encontrado enforcado com o cinto de sua própria roupa".
Paulo Egydio Martins disse que solicitou ao serviço de inteligência do Estado o levantamento da ficha do jornalista e, dias depois, recebeu um “nada consta” como resposta. A resposta teria sido repassada ao então Secretário de Cultura, porém foi insuficiente para evitar a tragédia. “Após esse incidente, houve a determinação dele comparecer ao DOI-CODI, onde acabou assassinado”, disse o ex-governador.
Outros dois jornalistas presos com Herzog, George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder, já haviam confirmado que o depoimento aconteceu sob tortura.
Segundo Paulo Egydio, ele avisou pessoalmente o então ditador, Ernesto Geisel, do erro cometido com Herzog. O ex-governador também disse ter presenciado o ditador exonerar o comandante do II Exército, Ednardo D`Ávila Melo. Geisel teria dito: “Não vou admitir que fatos como esses que ocorreram aqui no II Exército se repitam. Quero que você saiba que vou tomar medidas. Você vai tomar conhecimento pelo seu ministro do Exército e pelo Diário Oficial. Vou tornar isso um decreto: proibir que alguém seja preso antes de uma comunicação ao meu gabinete – ao gabinete militar, ao SNI ou a mim, pessoalmente. Só depois dessa comunicação é que posso admitir que um preso político seja levado ao recinto de um quartel do Exército.”
Durante a entrevista concedida ao canal de TV paga, Paulo Egydio também confirmou que está disposto a depor à Comissão da Verdade:
“Irei a qualquer hora, a qualquer instante. Não temos de temer nada. É hora de botar para fora tudo o que for para botar para fora. Vivemos numa democracia”.
Como dizem os ingleses: Vida longa apoiador do regime militar. Que ele compareça, conte tudo e tente dormir em paz.
Texto: Vinicius Mansur - Carta Capital
Beth Muniz - Travessia