"O sonho dele era se juntar ao bando de Lampião. Quando ele estava em Pirapora (MG), ele recebeu a notícia de que Lampião tinha sido morto. Então, seguiu sua vida no sertão mineiro".
*****
Lá se vão 60 anos desde que o sertão mineiro ganhou o mundo pela literatura de Guimarães Rosa. Mas, Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile, publicados em 1956, podem na verdade ter nascido quatro anos antes, quando o escritor mineiro organizou uma boiada para entender melhor a cultura sertaneja. Nessa aventura, Guimarães Rosa registrou lugares, palavras, expressões e personagens. Entre tantos vaqueiros que se juntaram à empreitada, um pode ter sido definitivo para as obras roseanas: Manuelzão.
A cruzada teve origem na Fazenda Sirga, a 60 quilômetros de Andrequicé, distrito de Três Marias (MG), onde Manuelzão viveu seus últimos 20 anos. Dez dias depois, o ponto de chegada foi uma fazenda em Araçaí (MG), município vizinho a Cordisburgo (MG), cidade natal de Guimarães Rosa.
A revista Cruzeiro, dos Diários Associados, publicou um relato da expedição na reportagem Rosa e seus vaqueiros, em 21 de junho de 1952. Nas fotos, Manuelzão está entre o grupo. Em sua homenagem, o escritor mineiro escreveu o conto Uma Estória de Amor, do livro Corpo de Baile, que posteriormente foi desmembrado em três volumes: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão.
Manuelzão é o protagonista do primeiro volume: após a morte de sua mãe, o vaqueiro resolve atender a um pedido dela para que fosse construída uma capela em suas terras e a obra é inaugurada com uma grande festa. Guimarães Rosa mescla realidade e ficção: assim como o personagem, a capela (foto) existe e ao seu lado está o túmulo de sua mãe. Já a festa é romanceada.